O som que vem da sala: Conto Coleção Identidade – Vol.2

“Boa noite. Poderia saber onde você esteve hoje à tarde? Isso: hoje à tarde, a tarde inteira. Aqui em casa? Aqui, como? Não foi o que eu soube, nem o que me contaram. Liguei pra cá várias vezes e ninguém atendeu. Ou você mudou o número do telefone de casa e não me avisou? Dá licença, deixa eu passar. Bebi sim, bebi um tantinho de nada, não estou bêbado. Só um pouco, nada demais, nunca… E se eu tiver bebido demais? Um pai de família não pode tomar umas e outras de vez em quando, depois do trabalho? Eu não ponho arroz e feijão nessa mesa? Ponho! Posso encher a cara quando eu quiser. Cadê? Cadê os copos dessa casa? Vou beber. Eu posso beber, sim, porque esse uísque quem comprou fui eu, esse copo quem comprou fui eu, e essa casa quem paga o aluguel dela sou eu! O que não pode é eu não saber onde a minha mulher andou a tarde toda enquanto eu estava trabalhando pra pagar nossa viagem pro Nordeste, pra pagar esse sofá, esse vestido. O babacão aqui se esfolando e a gostosa… Quer dizer, agora eu sei onde você estava. Não estou alterado! Mas qual o problema se eu estivesse alterado? Eu deveria estar como? Pleno? Plácido? Tranqu… E eu já sabia, só não queria admitir que eu sabia. Ah, que cabecinha essa minha… Claro que você sabe do que eu estou falando, Alice. Não se faça de sonsa, não combina com você.(…)”

Este conto faz parte da Coleção Identidade. Saiba mais em www.amazon.com.br/colecaoidentidade