O que é isto ou aquilo
Por Wellington Amancio Da SilvaO título que Wellington Amancio da Silva escolheu para seu livro – O que é isto ou aquilo – é uma enganação. O título pressupõe respostas, explicações, conceituações; lemos com uma esperança curiosa que espreita a página seguinte, na expectativa de que se desvele diante de nós o “isto” e o “aquilo”; o que ele nos oferece, entretanto, são mais questões, são sustos, são desamparos. As perguntas que aparecem nos títulos dos poemas (Que é uma tapera? Que é um rebojo? Que diz uma fotografia antiga? etc.) não são seguidas de respostas, mas de cutucadas e tonteios.
Mas não é justamente isso que têm em comum poesia e filosofia? Não é esse fascínio maior pelas perguntas que pelas respostas que move o interesse de quem entende que a verdade das coisas é um discurso bem elaborado sobre elas? Não é exatamente esse colocar as coisas, invés de representá-las objetivamente, que faz a poesia ser tão necessária quanto a ciência? O que é isto ou aquilo, assim ouso dizer, é mais um livro de perguntas que de respostas, inquire mais que afirma – muito mais! Suas perguntas são de duas naturezas: As que estão explícitas no texto (Que é ter grude no pescoço?, por exemplo), as perguntas sem respostas, que depois de perguntadas continuam perguntando, tanto no texto quanto em nossas bocas; e as perguntas que não estão no texto mas que são provocadas em nós – perguntas conceituais, como as que surgem quando lemos O tempo, e perguntas imaginativas, relacionadas à narrativa, a respeito, por exemplo, de Cesar e sua mãe, mencionados em Cachaça de desodorante. O título deste livro de Amancio, por outro lado, não é uma enganação quando nos dá a impressão de que responderá perguntas que nos interessam. O curioso é o modo como ele faz isso. Coloca a nós as perguntas que nos interessam tratado de temas que são dele ou de seu contexto, mas com os quais nos identificamos e nos apropriamos. Passam a ser temas nossos porque estão assentados sobre angústias, desejos, prazeres, dores, afetos, etc. que também são nossos. E quais são os temas que Amancio coloca? Eu quero exemplificar com três. O primeiro deles é sua própria situação de alguém que mora em uma cidade do interior do Nordeste e guarda certo saudosismo às peculiaridades que se tornam mais raras conforme a cidade muda. O “radinho de pilha”, o “banco de madeira”, a “briga de galo”, o “baú de sucupira” são coisas que capturam esse saudosismo (que não deve ser entendido aqui como um simples apego ao passado, mas como uma compreensão de sua importância e como saudade). Outro tema é a reflexão filosófica. O tempo, o devir, o ser, a angústia (kierkegaardiana) são temas tratados no livro e que tradicionalmente são temas de filosofia. Mas o que o autor faz aqui não é a tentativa de fazer filosofia em verso, ele simplesmente coloca as questões que o preocupam e que nos preocupam, temas que, ainda que não pensemos cotidianamente, moldam a maneira como vivemos. O último dos temas que quero falar é o da religião. O elemento religioso está presente, de maneira mais ou menos explicita, em boa parte dos poemas que constituem o livro, seja como uma reflexão sobre a experiência com a religião ou como um personagem das tradições religiosas (Zeus ou o Cão, por exemplo). É possível perceber uma relação de aproximação e distanciamento em relação à religião – talvez como aquele experiencia que Rudolf Otto chamou de mysterium tremendum et fascinans. Essa relação se expressa em elementos que entre os religiosos pode soar contraditória, mas do ponto de vista da tradição profética e da teologia de nossas terras, é a mais coerente.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Wellington Amancio da Silva
- ISBN-10: 8581967728
- ISBN-13: 978-8581967721
- ASIN: B08YXWZ351
- Idioma: Português
- Tamanho: 6008 KB
- Nº de Páginas: 58
- Categoria: Literatura e Ficção
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