O Casaco Comprido

I Sair de Casa

A Carla estava a preparar-se para sair. Ia a uma festa na casa de uma amiga muito rica – a casa dela era um autêntico palacete cheio de corredores e divisões. Tinha pensado na festa a semana inteira.
Estava pronta para sair. Porém, tinha a sensação de ter-se esquecido de alguma coisa. Verificou a sua mala mais uma vez. Estava lá tudo: o telemóvel, os cigarros, as chaves do carro, o batom e tudo o resto. Pensou que era tudo imaginação sua.
Olhou para si mais uma vez ao espelho. Considerava que estava magnífica com aquele casaco comprido. A sua intuição continuava a dizer-lhe que tinha esquecido de alguma coisa, mas decidiu não esperar mais. Afinal, estava muito atrasada. Um pouco de atraso era bom (o suficiente para se tornar notada), mas não queria perder nada de importante da festa. Ia lá estar toda a gente que era gente na cidade.

(…)

III O Pequeno Escritório

A amiga levou-a por um corredor até um pequeno escritório. Tinha apenas uma cadeira, uma pequena mesa e um grande espelho. Servia perfeitamente para as suas necessidades.
Conversou um pouco com a amiga. Esta acabou por interromper a conversa dizendo que voltava já – tinha de tratar de qualquer coisa da festa. Para a Carla estava bem – dava-lhe tempo para colocar o batom e o pó de arroz.
Depois de estar satisfeito com o resultado, colocou o batom e o pó de arroz na mala. E, por fim, despiu o casaco comprido.
Finalmente, a Carla descobriu o que tinha esquecido verdadeiramente. Não tinha nenhuma roupa por baixo do casaco comprido. Nada. Nada.
Sorriu para si própria. Ainda bem que não tinha procurado despir o casaco no meio da festa. Teria sido bom e bonito. Imaginou todos aqueles olhares sobre o seu corpo e um arrepio percorreu o seu corpo. Ao mesmo tempo, gostava e detestava daquelas dezenas de olhos sobre o seu corpo. Principalmente, os homens.

Conclui-o que não existia qualquer problema. A amiga arranjaria um dos seus vestidos – tinham as mesmas medidas. E mais ninguém notaria o seu deslize. Seria um segredo entre as duas.
Pousou o casaco e a sua mala sobre a mesa. Ficou a olhar para o seu corpo no espelho e gostou do que viu. Considerava que ficava a matar com os seus sapatos de salto alto. Nua era excelente, mas com os sapatos altos ainda ficava melhor. Não era preciso mais nem menos. Estava mais do que perfeita.
(…)

IV Os Corredores

Resolveu entreabrir a porta e ver o que se passava lá fora. Um casal passava neste momento e a Carla forçou um sorriso e fechou a porta. Com alguma frequência olhou lá para fora – existiam sempre pessoas a passar mas nunca a sua amiga
A Carla colocou a cabeça de fora mais uma vez. O corredor estava vazio e, sem pensar, arriscou alguns passos no corredor. Quando reparou no que estava a fazer, já era tarde para regressar ao escritório. Algumas pessoas vinham da sala da festa e a Carla não tinha qualquer hipótese de voltar sem ser o seu lindo corpo ser muito notado.
Correu na direcção oposta, reparando na ondulação dos seus seios. Verificou que os sapatos de salto alto não ajudavam nada e faziam algum ruído.
Mais à frente, escutou vozes que vinham na direcção oposta à que corria – tinha muito pouco tempo para se esconder. Quase parou e começou a experimentar as portas do corredor. Uma após outra, verificou que estavam fechadas. À última da hora, lá descobriu uma aberta e entrou sem mais.
Um dos homens à frente ainda vislumbrou um excelente rabo produto de muito exercício. Um rabo como nunca tinha visto ao natural, mas pensou que era imaginação sua.