O Bentão da Aninha: Origens e Vida de Bento Ribeiro da Silva, Pai de Anita Garibaldi

Do mesmo modo, é lugar comum que determinadas características da personalidade de uma pessoa sejam tidas como oriundas do pai, da mãe ou de outro familiar, seja pelo exemplo ou mesmo por alguma espécie de herança genética, transmitindo-se entre as sucessivas gerações e sendo refletida em pessoas que muitas vezes sequer conheceram o detentor original daqueles traços.

Partindo dessas premissas, apresento aqui um exame detido da vida do pai de uma conhecida personalidade da história brasileira e, também, da história italiana, promovendo a apresentação de uma série de aspectos todavia desconhecidos a respeito da trajetória de seu genitor, a partir dos quais serão ressaltados o paralelismo existente entre determinados fatos por ambos vividos e qualidades comuns do caráter do pai e da filha.

Personagem célebre e marcante, cuja história contém repetidos episódios de heroísmo e determinação ímpar, Anita Garibaldi é figura repetida e detalhadamente estudada por diversos pesquisadores, há mais de um século sendo objeto de inúmeros livros, debates, programas televisivos e até mesmo ações judiciais, como a movida pelo advogado e historiador Adilcio Cadorin com o polêmico fito de promover seu registro tardio de nascimento.

Se, inobstante a sempiterna controvérsia sobre a data e local de seu nascimento, a vida de Anita Garibaldi tem seus contornos essenciais e muitos detalhes sobejamente conhecidos pelos historiadores, o mesmo não se pode dizer sobre seu pai, Bento Ribeiro da Silva, que continua a ser um grande desconhecido mesmo diante de todos os estudos que têm a filha por objeto.

Sobre suas origens e vida pregressa, pouco falam os livros dedicados à vida de Anita, salvo simples alusões a seu labor como tropeiro ou peão de fazenda. Seu nascimento em São José dos Pinhais, hoje no Paraná e à época parte da Capitania de São Paulo, e sua filiação, apenas são meramente citados a partir dos dados contidos no registro de seu casamento com Maria Antônia de Jesus, ocorrido em Lages no ano de 1815, ou nos registros de batismos dos filhos.

Desse modo, é a partir do matrimônio que Bento Ribeiro da Silva irrompe na História recordada pela torrente de pesquisadores que abordam a breve e atribulada passagem de Anita por este mundo, para dela se esvair menos de duas décadas depois, eis que falecido por ocasião do malfadado casamento de sua filha com o sapateiro Manoel Duarte de Aguiar.

Notável, pois, que “Aninha” e “Bentão” estavam ligados não apenas pelos laços de sangue, compartilhando personalidades irredentas, impulsivas e passionais, sendo que, no caso de Anita, o ardor e a coragem herdadas do genitor deram vazão a um arrebatador amor pelo revolucionário italiano que, se por poucos meses dominou a efêmera República Juliana sediada em Laguna, ali conquistou o coração da jovem que trocou a vida modorrenta e monótona naquele rincão do Sul do Brasil pela sucessão de aventuras e desventuras que a colocaram nas páginas da História.

Cumpre, pois, que se busque preencher as lacunas antes registradas, direcionado o foco do presente trabalho para o “Bentão da Aninha”, de forma a que, através de detida pesquisa em fontes primárias e secundárias, possam ser revelados fatos conhecidos apenas por uma minoria de interessados em História e Genealogia e certamente alheios à imensa maioria do público que bem conhece a vida da filha, bem como outros que, salvo equívoco, são ainda totalmente inéditos.