O aplicativo divino

Um aplicativo misterioso, contendo a data de nascimento e morte de cada usuário, aparece no celular de cada pessoa. A princípio as pessoas não o levam a sério, pensando se tratar de alguma brincadeira, mas quando as datas começam a se cumprir, há um pânico geral, que o governo controla ressaltando as vantagens do aplicativo, principalmente nos indicadores sociais. Miguel, o narrador do romance, relata a transformação da vida em sociedade após a aparição do aplicativo, quando surgem dois grupos principais: um que diz ser necessário aproveitar a vida e outro que defende a tese de se dedicar à vida espiritual, já que a aparição do aplicativo passa a ser vista como a prova da existência de Deus, afinal ninguém mais poderia saber o dia da morte de cada pessoa. Miguel transita entre esses dois mundos, o sagrado e o profano. O primeiro é representado por boa parte de sua família, incluindo sua mãe, que é descrita como “a maior autoridade em morte”. O segundo é representado, principalmente, por três mulheres: Soraya, uma mulher compulsiva sexualmente, por quem Miguel é apaixonado; Samyra, a irmã bipolar, que tem tendências suicidas e um gosto por humor negro; e Sofia, prima de Miguel, uma jovem rebelde que se opõe ao modo como o governo passa a tomar atitudes arbitrárias ao se apropriar do aplicativo e da crença crescente em Deus.
Num mundo onde todos sabem o dia em que irá morrer, o absurdo, assim como a própria morte, passa a ser a regra da qual ninguém pode escapar. Alternando entre o trágico e o cômico, O aplicativo divino reflete sobre o peso de saber o que antes só Deus poderia saber e a angústia de ter que lidar com a maior intimidade desnudada, já que, como reflete o narrador, não há nada mais íntimo do que o momento da morte.