Nós Contra o Mundo

Marina Mahfuz, escritora natural de Goiânia – Goiás, Brasil, lança seu primeiro romance.

SINOPSE
Georgia Herz é uma jovem a procura de emprego na indústria da moda. Ela conhece a socialite milionária, Hilda van Pool, que sonha em começar sua própria marca de roupas. Ela contrata Georgia como designer e, enquanto a relação entre as duas se aprofunda, elas descobrem mais e mais segredos uma da outra. Esse profundo drama psicológico explora família, tragédia e empoderamento feminino. Leitura imperdível.

O MISTÉRIO EM VOLTA DAS PERSONAGENS É IMPRESSIONANTEMENTE INTRIGANTE

A personagem principal, Georgia Herz, parece ser o tipo observador e calado, porém possui uma profusão de sentimentos. A história segue a trajetória da jovem moça enquanto trabalha com a milionária Hilda van Pool no tempo presente, com a presença de flashbacks – um antigo namorado que a levou para viajar de motocicleta, sua mãe alcoólatra, seu pai egocêntrico e sua irmã egoísta embalam suas memórias, pesarosas.

Georgia parece querer desesperadamente um novo começo – ela ama desenhar roupas e é muito boa nisso. Hilda van Pool aparece como uma espécie de salvação para Georgia (ou Georgie, como ela a chama, carinhosamente) quando a convida para trabalhar como estilista e criar uma linha de roupas para mulheres. Hilda pede que Georgia fique hospedada na casa de hóspedes de sua mansão enquanto elas trabalham. Mas a impressão que se tem é que nunca dá para enxergar por trás das intenções de Hilda. Isso se deve provavelmente ao fato de que Georgia não se sente merecedora de oportunidade tão grandiosa – um novo emprego, bom salário, a chance de poder ser criativa, alguém disposto a investir em seus talentos. E o livro foca na visão de mundo de Georgia.

Hilda também lida com seus próprios demônios. Ela perdeu sua filha, Mary, alguns anos atrás. E dá para perceber que há um desconforto quando ela menciona sua filha a Georgia. Georgia se mostra incomodada e um tanto nervosa, além de curiosa, ao saber que Hilda perdeu misteriosamente sua filha. A história começa realmente a se desenrolar a partir deste ponto, e Mary se torna uma personagem quase viva devido à sombra constante de sua presença. Há uma dificuldade de se definir a relação entre Georgia e Hilda. Ao passo que Georgia procura manter as coisas estritamente profissionais, Hilda resolve compartilhar mais de sua própria vida, o que faz Georgia se abrir um pouco também, encontrando apoio na chefe.

ESTRUTURA LIVRE
A autora não se deixa limitar pelo gênero romance, humildemente dispensando o narrador em partes intensas da história, e deixando para o leitor a imaginação de certas ações, reações e ritmo dos personagens. Apesar de termos algumas aparições de um narrador, ele se propõe a narrar o essencial e faz um bom trabalho. Outra característica interessante é a falta de aspas ou travessões para indicar a fala dos personagens. O narrador se limita a identificar quem disse o que, e não como aquilo foi dito. Esse tipo de estrutura poderia ser percebida como um peça de teatro, já que Marina dividiu as partes do livro em cenas ao invés de capítulos. Entretanto, o narrador volta a aparecer de modo eloquente, evitando assim qualquer confusão de gênero. A simplicidade com que foi feito faz com que seja livro de leitura leve, enquanto também expõe trama bem estruturada e desafia seus pensamentos sobre os personagens descritos.