No caminho de volta

Tal qual as madeleines de Proust, os símbolos da infância, em especial, fazem as engrenagens da memória percorrerem um caminho de retorno às histórias do passado. No livro “No caminho de volta”, o rio, a pobreza, os velhos e as crianças serão referências para a criação de um universo ficcional pleno de pontes e tentáculos com os fragmentos de uma dada realidade. Os personagens estarão sempre a cursar veredas, trilhas e caminhos, tentando achar o rumo de ida e, sobretudo, o de regresso. O medo, as perdas, a batalha do dia a dia, as injustiças e as pequenas alegrias da vida simples dos personagens são traços marcantes no itinerário dos contos desse livro. Os olhos apontam em uma direção, e a mente indica tantos caminhos; o de retorno será, em todo tempo, uma grande escolha. Sigamos; pois, como disse o André, de Raduan Nassar, convicto, num juízo rígido, feito um cascalho ou osso rigoroso, “estamos indo sempre para casa”.

“A leitura de ‘No caminho de volta’ é tarefa lapidar de si mesmo. Numa habilidade própria dos grandes literatos, Carvalho Neto universaliza os sentimentos da infância, os desafios insanos da idade adulta e as epifanias da senilidade, colocando-nos diante do que somos, sem exageros ficcionais, recorrendo à fluidez da memória. Rompe, por isso mesmo, com Cronos e nos coloca sentados, em puro encanto, no colo fluido e assistemático de Aion. Deixa escapar, em linguagem opaca – bom que seja assim –, sensações no corpo, de forma bem estoica, com rebuliços rememorativos, fazendo do abstrato que em nós habita, algo físico capaz do prazer e da dor. Ao entrar nessa obra, o leitor deve não só carregar as malas da alma – no corpo, mas também deixar espaço para se emprenhar do que no livro há, porque a saída, ao final da leitura, não será menor que um parto: entre a agonia e o regozijo, (re)nascimento.” — Prof. Dr. Valter Cezar Andrade Jr. ((Docente do IF Sertão – PE).

“Carvalho Neto consegue construir narrativas fluidas e bem engendradas, nas quais desfilam personagens que vão do prosaico e cômico ao dramático e misterioso. Como se vê, por exemplo, no caso do jovem tímido de ‘No caminho de volta’, que pela primeira vez vai a um bordel, levado pelo tio de gestos espalhafatosos, e lá se vê entre o nervosismo ante a sua iniciação sexual e a confusão dos sentidos por achar que a prostituta a iniciá-lo e a mulher por quem tem forte atração parecem ser a mesma pessoa. No final, uma luz apagada é a única coisa a acender alguma possibilidade de resposta.” — Prof. Me. Otávio Assis (Docente da UNEB).

“Acabei de ler o livro. Enquanto lia, me lembrava daquela definição de Cortázar sobre o conto, onde ele comparava-o à fotografia e o Romance a um filme. Parece que eu estava lendo/vendo vários retratos de família pendurados em uma parede antiga. Gostei muito. Sobretudo de ‘Boneco de pano’; ‘Quanta injúria’; ‘Firmino’ e ‘O erro de Peri’ (ri muito com esse, ótimo). (…) Depois de ler seus dois livros, eu creio que você tenha encontrado seu modo pessoal de narrar, agora é só produzir mais e mais para avolumar sua obra. Um abraço.” — Manoel Ribeiro (escritor).