Nasci Subversiva

Que enorme privilégio o nosso – dos brasileiros, em particular, mas também de angolanos e de toda a comunidade lusófona – poder ver Nasci subversiva, de Nadejda Marques, editado em português. Sua publicação certamente chega em boa hora. Em tempos sombrios como os que vivemos, em que ganham força teses bárbaras, contaminadas por um revisionismo histórico estúpido, a biografia de Nadejda é, sem sombra de dúvida, um antídoto contra a terrível amnésia que insiste em nos acometer. Nasci subversiva é um livro de memórias, ao estilo dos melhores do gênero, graças às indiscutíveis habilidades literárias de Nadejda. Isso, por si só, é motivo para que o livro seja lido, relido, emprestado e sugerido. Mas não apenas: a observação sensível e sempre crítica do mundo, que a autora adquiriu ao longo da vida como refugiada política, estudante, ativista dos direitos humanos, jornalista, professora e mãe, faz com que Nasci subversiva seja também um poderoso ensaio histórico e social. Desse modo, Nadejda consegue mostrar que, embora muito particular, sua história é, também, peça de um grande mosaico de histórias comuns marcadas pelo autoritarismo e pela injustiça, em todo o terceiro mundo – esse conceito em desuso que a autora nos faz o favor de restituir. E, no entanto, como Nadejda nos lembra, todo ativismo pressupõe otimismo: é preciso ter esperança de que as coisas possam mudar. É assim que eu espero que este livro seja lido – como um testemunho forte, muitas vezes doloroso, mas carregado de confiança no futuro.

Luiz Felipe Campos, jornalista