Narrativas do Abajur

O que se não pode narrar, àquilo que personagem deveria calar, é possível de ser dito pela boca de um bicho, ou de uma “coisa” ou “objeto”, acrescentando-lhe uma língua falsa entre os lábios. Tal aos discursos do tempo presente, deste modo ninguém se compromete e o pudor do leitor não é afetado em demasia. Não há culpa nem crime, sossegue. Temos aqui histórias de pessoas rindo à beira do precipício; narrativas de espíritos diluídos, confusos e em queda livre. Revela-se um cão falante que almeja a rua; acompanhamos a busca por um escritor de impossível presença; há o percurso de uma jovem, desde o amor até a sarjeta e a solidão”; descobrimos as confissões de um traidor que sofre por suspeitar da sua esposa; descobrimos uma série de relatos de maldades submersas no cinismo; personagens moídos nos becos e vielas da existência, mas que se agarram ao ato de narrar, como salvação última, buscando entender a avalanche do inferno sobre si, e talvez a porta de saída.