Narciso

A construção da personalidade é abordada através da projeção de seus desejos, medos e sonhos nos outros e em como os outros a enxergam. Com o desenvolvimento do ser, o objeto de projeção muda: o próprio ego, os pais, os professores, os ídolos da adolescência, a pessoa amada, Deus, o vazio hedonista e o vazio niilista. Passar a enxergar cada ser como ponto focal de suas próprias experiências é um passo essencial para a compreensão do mistério da vida e da interligação das almas humanas.

“Incapaz de amar ou odiar a si mesmo, Narciso cresceu também incapaz de demonstrar sentimentos a qualquer outra pessoa. Ele sempre esperava que as outras pessoas refletissem a perfeição que ele mesmo considerava possuir em si, a perfeição que só quem não consegue olhar para si próprio de um ponto de vista externo acredita ter.”

“Transformamo-nos continuamente, e a pessoa que quer falar sobre a sensação de ontem já não é a mesma pessoa que a viveu. É impossível capturar a essência da vida, pois essa sempre escapa ao sujeito observador, que invariavelmente terá transformado essa própria essência em outra quando finalmente a puder descrever, através da lente nublada, seletiva e caleidoscópica da memória. A essência instantânea é irremediavelmente deixada para trás, e sempre que se tenta falar sobre ela, quem fala é ao mesmo tempo dono e escravo de outra essência instantânea, construída em outras circunstâncias externas e internas.”