Na Casa dos Outros: Histórias Vividas por Trabalhadoras Domésticas

Dos oito trabalhadores entrevistados, sete são mulheres. Não é à toa, já que 83% dos 7,2 milhões de domésticos são mulheres, de acordo com dados revelados pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) em 2016.
A presença de mulheres, principalmente negras e de baixa renda, tem a ver com a história da escravidão no Brasil. A população afrodescendente escravizada pelos portugueses desempenhava funções de criadas, mucamas, amas de leite, cozinheiras, mordomos, lavadeiras e engomadeiras. A partir de 1888, com o fim do uso da força de trabalho escravizada, muitos desses trabalhadores, destituídos de oportunidades de inserção no mercado de trabalho, acabaram encontrando na prestação de serviços em casas de famílias brancas uma das poucas oportunidades de sobrevivência. Ou seja, o trabalho doméstico acabou sendo a única opção de renda para muitos ex-escravos.

Os trabalhadores domésticos estiveram à margem da sociedade desde a abolição da escravatura, sem nenhuma segurança jurídica. Tanto que a categoria não foi nem citada no surgimento da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), em 1943. Só em 1º de junho de 2015 que a então presidenta Dilma Rousseff (PT) sancionou a Lei Complementar nº 150, que regulamentou a as regras contratuais específicas dos empregados domésticos. Mesmo assim, cerca de 65% dos trabalhadores ainda eram informais após dois anos de sanção da PEC, segundo dados do portal Doméstica Legal.

A cultura de submissão ainda mantém relações de trabalho doméstico precárias, válidas apenas sob a palavra de acordos, que não trazem melhorias ou garantias para a vida dos empregados. Em vista disso, Na Casa dos Outros – Histórias Vividas por Trabalhadoras Domésticas pretende trazer reflexões acerca do papel dos servidores domésticos na sociedade brasileira.