Mulheres que amam demais.

“Ela não volta. Está presa em um mundo que somente ela alcança, que somente ela percebe. As suas inquietações são tamanhas,os seus desejos são adolescentes, a sua frustração é tão imediata. A sua incapacidade de entender a vida, as pessoas, os sentimentos, as palavras.Ela está presa dentro de si mesma. Está suscetível as dores do mundo. A todas as dores do mundo.

É como se dissesse a todo momento “isto aqui não me interessa mais”. E grita” estou sozinha, estamos sozinhas. Queria que alguém aparecesse, nos visitasse!”.Sim. Ela tem razão. A vida parece melhor para quem é visitado, para quem tem amigos e parentes. Mas será que é?

Ela condiciona a felicidade dela a existência de outras pessoas. Amores, amigos, parentes. Clama por todos desesperadamente. A solidão é algo intolerável. Ela não se basta. Ela não tem satisfação na sua solidão. Qualquer momento em que fique sozinha, irá buscar o celular, o telefone, a internet, os sites de relacionamentos e entrará em desespero.

Sim, se o telefone não atender, se o celular não atender, se os amigos não estiverem conectados…assim é a vida dela…se não conseguir falar, não conseguir desabafar, não conseguir conversar, não conseguir atenção, o mundo irá desabar.

E desaba todos os dias em forma de choro e de lágrimas. E desaba em forma de enorme frustração. Ela não quer mais viver. Ela não quer mais sofrer. Ela sente que a dor é maior que ela. Mas que dor é esta que não é visível? Não há ressonância magnética que justifique esta dor.Não há nada que possa transformar ou reduzir esta dor.

Antidepressivos, ansiolíticos,antipsicóticos. Tudo foi administrado e está sendo administrado. Mas a depressão é mais forte. O sentimento é complexo. A alma se sente pesada. Os pensamentos são conturbados; os conflitos parecem insuperáveis.

Cada dia a dor aumenta, assim como aumenta o desejo de suicídio. O desejo de desistir. Ela não quer mais viver. Ela não quer mais a mesma realidade. Ela quer um mundo diferente deste em que ela vive.

No entanto, não se sente capaz para transformá-lo. Não se sente em condições de criar um projeto de vida. Nada é importante para ela. Nem estudos, nem trabalho, nem a música. Nada.

Ela está presa em um mundo onde somente cabem valores românticos. Reconquistar o homem que perdeu e com o qual teria todas as chances de ser feliz. Ele sim poderia faze-la feliz se aparecesse e a tomasse nos braços.

E começa a divagar. Embora muito jovem , ela pensa em todas as alternativas amorosas. Em todas as possibilidades que perdeu. E vai como se orasse um rosário, dizendo os nomes das pessoas que se envolveu. Seria feliz com este ou aquele.

A vida estaria preenchida se estivesse casada com família e filhos. Esta seria a única forma dela se considerar feliz. Ter homem,casa e filhos dela.

Por isto quer morrer de amor, seja por um ou seja por todos que ela deixou passar. É angustiante porque todos se misturam em seus pensamentos. A frustração vai se tornando maior. A dor entope seu poder de libertação.

Ela não era assim. Era livre como um pássaro. Gostava de cantar, de correr, de pintar, de sorrir, de dançar e de viver.

Quando foi decretado o transtorno mental em sua vida foi uma surpresa enorme. Ela parece haver despencado dentro de si mesma…” Leia mais no e-book.

Sobre Vera Mattos:

“O texto de Vera Mattos é um espelho, é vidro e é corte. Sulco profundo e veia aberta, despejando ínfimos lasers.
Quem conhece Vera sabe que ela vive o que escreve e elabora apenas o que o seu coração determina. E seu coração é múltiplo, como geral é sua ótica do mundo. E não há quem não queira penetrar neste universo irrestrito. O risco de ler Vera é ficar possuído”. Jolivaldo Freitas – poeta, escritor e jornalista.