Morrer e voltar, Matar e seguir: (pequena história baseada em fatos quase reais)
Por Celso Azzan Jr. Um dia você vai ao cinema. Entra, escolhe a poltrona, senta-se. Não é sua primeira vez. Você se recorda de que faz isso desde sempre; gosta de cinema, já viu inúmeros filmes em várias salas de cinema, mas desta vez acontece algo especial. Você encontra alguém. Vai conhecer alguém. Não se trata exatamente de uma ocasião comum, aquela história de um cara que conhece uma mulher num cinema, e por aí vai. É bem mais que isso. Você se recupera de algo muito ruim que aconteceu em sua vida, com sua saúde, com tudo o que você conhecia e que te pertencia. Agora, simplesmente não pertence mais. Você perdeu tudo, ou quase isso. Para onde quer que você olhe, vê que sobrou pouco do que você era, do que tinha, de tudo aquilo que dava como certo. Por isso mesmo, você, de fato, recomeça. Sua vida passa por um momento de retomada: depois de voltar ao zero, é preciso de novo esquentar o motor e mais uma vez dar a partida. Todos os dias você se dá conta de que aquilo que acontece ao seu redor, desde um bom tempo para cá, parece novidade a seus olhos. Provavelmente já havia se esquecido de muitas das coisas que refaz agora. Estavam ainda obscuras para você, embora seja óbvio que já as conhecia. Aos poucos, você enfim vai retomando conhecimento de quem exatamente é você. Mais ou menos como ter de dizer, todos os dias, um ‘olá, muito prazer’ ao cara que você vê quando olha o espelho. É estranho, mas não impossível.
E então você um dia sai de casa para ir ao cinema. Já está lá, sentado numa poltrona, e alguém ao seu lado – alguém que você nem tinha visto ao entrar – chama tua atenção. É aí que tudo recomeça, de fato. É aí que o motor faz de novo o primeiro giro. Será que vai pegar? O que acontecerá depois? Uma paquera? Algo mais explícito? Não. Nada disso. Aos poucos, depois de um primeiro contato, você vê que a ocasião não é especial apenas para você. Do outro lado, será fácil notá-lo, também há alguém que, a seu modo, recomeça uma história. Nada a ver com o que se passa com você. Provavelmente nem tão difícil quanto, mas, ainda assim, uma retomada será sempre a parte mais custosa da subida para esse viajante que derrapou no meio da ladeira e, por isso mesmo, já se encontra um tanto avariado quando, à sua própria revelia, chega de novo lá em baixo. Qualquer derrocada, por mais involuntária e imprevisível que seja, implicará depois certa vontade de refazer tudo de novo – embora, é claro, de maneira diferente. É o que acontece quando a gente vê que tem uma história inteira pela frente, e precisa reescrevê-la a partir do zero.
A história aqui contada não pretende, nem poderia, acertar as contas com o passado – ou com o futuro – de seus dois personagens. Tampouco deseja explicar como as perdas que a vida põe no meio do caminho fazem de nós o que somos. É apenas uma história. Se for bem contada, não defenderá teses. Se for apenas expressão do que há de mais humano em quem escreve, não sustentará nenhum tipo de moral. Uma história não aplica lições. Apenas conta algo. Pode até, de perto ou de longe, parecer-se com a história de alguém que o leitor conhece, eventualmente com a sua própria, mas nunca pretenderá convencê-lo de nada. Uma história será sempre apenas uma história. O que faz dela interessante quase nunca será aquilo que nos conta. Ao contrário, normalmente é o que revela dentro de nós. Uma boa história, por isso mesmo, não serve apenas para trazer o mundo ao leitor. Mais que isso, repõe o leitor no mundo, no seu mundo. É o que importa.
Por isso, uma história que começa num cinema, narra o caminho sôfrego para remontar a ladeira, e termina no meio dela, só muito superficialmente poderá nos repor no mundo de quem a escreve. O mundo deste continua, de fato, apenas seu. Versando sobre o que quer que seja, será mais fácil acreditar que sua história faça exatamente o contrário, trazendo o leitor para um mundo que apenas a partir de então passa a existir: um outro mundo, que, então, já será o seu próprio. E o será, depois disso, para sempre.
E então você um dia sai de casa para ir ao cinema. Já está lá, sentado numa poltrona, e alguém ao seu lado – alguém que você nem tinha visto ao entrar – chama tua atenção. É aí que tudo recomeça, de fato. É aí que o motor faz de novo o primeiro giro. Será que vai pegar? O que acontecerá depois? Uma paquera? Algo mais explícito? Não. Nada disso. Aos poucos, depois de um primeiro contato, você vê que a ocasião não é especial apenas para você. Do outro lado, será fácil notá-lo, também há alguém que, a seu modo, recomeça uma história. Nada a ver com o que se passa com você. Provavelmente nem tão difícil quanto, mas, ainda assim, uma retomada será sempre a parte mais custosa da subida para esse viajante que derrapou no meio da ladeira e, por isso mesmo, já se encontra um tanto avariado quando, à sua própria revelia, chega de novo lá em baixo. Qualquer derrocada, por mais involuntária e imprevisível que seja, implicará depois certa vontade de refazer tudo de novo – embora, é claro, de maneira diferente. É o que acontece quando a gente vê que tem uma história inteira pela frente, e precisa reescrevê-la a partir do zero.
A história aqui contada não pretende, nem poderia, acertar as contas com o passado – ou com o futuro – de seus dois personagens. Tampouco deseja explicar como as perdas que a vida põe no meio do caminho fazem de nós o que somos. É apenas uma história. Se for bem contada, não defenderá teses. Se for apenas expressão do que há de mais humano em quem escreve, não sustentará nenhum tipo de moral. Uma história não aplica lições. Apenas conta algo. Pode até, de perto ou de longe, parecer-se com a história de alguém que o leitor conhece, eventualmente com a sua própria, mas nunca pretenderá convencê-lo de nada. Uma história será sempre apenas uma história. O que faz dela interessante quase nunca será aquilo que nos conta. Ao contrário, normalmente é o que revela dentro de nós. Uma boa história, por isso mesmo, não serve apenas para trazer o mundo ao leitor. Mais que isso, repõe o leitor no mundo, no seu mundo. É o que importa.
Por isso, uma história que começa num cinema, narra o caminho sôfrego para remontar a ladeira, e termina no meio dela, só muito superficialmente poderá nos repor no mundo de quem a escreve. O mundo deste continua, de fato, apenas seu. Versando sobre o que quer que seja, será mais fácil acreditar que sua história faça exatamente o contrário, trazendo o leitor para um mundo que apenas a partir de então passa a existir: um outro mundo, que, então, já será o seu próprio. E o será, depois disso, para sempre.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Celso Azzan Jr.
- Tamanho: 3013 KB
- Nº de Páginas: 111
- Idioma: Português
- Categoria: Literatura e ficção
Amostra Grátis do Livro
Faça a leitura online do livro Morrer e voltar, Matar e seguir: (pequena história baseada em fatos quase reais), escrito por Celso Azzan Jr.. Esse é um trecho gratuito disponibilizado pela Amazon, e não infringe os direitos do autor nem da editora.