Se há um expediente literário de que se valem as obras eróticas ocidentais, pelo menos desde o Renascimento, este é por excelência o rebaixamento. Seja pelo emprego do léxico obsceno, seja pelas alusões de duplo sentido, seja pela imoralidade das imagens, essa operação da linguagem supõe sempre o deslocamento para um lugar simbólico identificado com o que é “baixo”. Trata-se, em suma, de uma escrita que submete toda experiência humana aos imperativos do baixo-ventre.
Ora, para surpresa do leitor, os mitos eróticos narrados em Moqueca de maridos parecem prescindir dessa convenção dominante no moderno erotismo literário. Por maior que seja a obscenidade de suas histórias, nada nelas sugere o trabalho de rebaixamento, o que concorre para a impressão de se estar diante de um mundo sem censura. Com efeito, o imaginário sexual indígena se impõe por uma liberdade de fabulação que não encontra paralelo em nossa cultura.
Longe de evocar uma visão idílica das práticas amorosas nas sociedades tribais, esse repertório inusitado coloca em cena figuras improváveis como homens menstruados, mulheres sem vagina, mães que devoram os filhos, noivas que têm amantes artificiais, jovens que engravidam de vermes e até mesmo gente que copula com espíritos. Se esses mitos desconcertam é porque, neles, o sexo circula por todos os lados, transitando à vontade entre o profano e o sagrado sem observar qualquer hierarquia.
Daí a perturbadora imagem da “cabeça voraz”, comum a diversas histórias, que subverte nossas convenções em torno do alto e do baixo corporal. Na mitologia indígena, o motivo capital surge para realçar a vitalidade física de um órgão insaciável, que só obedece aos impulsos da sensualidade. Assim concebida, a cabeça deixa de funcionar apenas como cosa mentale para ostentar sua condição de matéria, abrindo-se às inesgotáveis potencialidades do erotismo.
Ora, para surpresa do leitor, os mitos eróticos narrados em Moqueca de maridos parecem prescindir dessa convenção dominante no moderno erotismo literário. Por maior que seja a obscenidade de suas histórias, nada nelas sugere o trabalho de rebaixamento, o que concorre para a impressão de se estar diante de um mundo sem censura. Com efeito, o imaginário sexual indígena se impõe por uma liberdade de fabulação que não encontra paralelo em nossa cultura.
Longe de evocar uma visão idílica das práticas amorosas nas sociedades tribais, esse repertório inusitado coloca em cena figuras improváveis como homens menstruados, mulheres sem vagina, mães que devoram os filhos, noivas que têm amantes artificiais, jovens que engravidam de vermes e até mesmo gente que copula com espíritos. Se esses mitos desconcertam é porque, neles, o sexo circula por todos os lados, transitando à vontade entre o profano e o sagrado sem observar qualquer hierarquia.
Daí a perturbadora imagem da “cabeça voraz”, comum a diversas histórias, que subverte nossas convenções em torno do alto e do baixo corporal. Na mitologia indígena, o motivo capital surge para realçar a vitalidade física de um órgão insaciável, que só obedece aos impulsos da sensualidade. Assim concebida, a cabeça deixa de funcionar apenas como cosa mentale para ostentar sua condição de matéria, abrindo-se às inesgotáveis potencialidades do erotismo.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Betty Mindlin
- Tamanho: 5857 KB
- Nº de Páginas: 303
- Editora: Paz e Terra
Amostra Grátis do Livro
Faça a leitura online do livro Moqueca de maridos: Mitos eróticos indígenas, escrito por Betty Mindlin. Esse é um trecho gratuito disponibilizado pela Amazon, e não infringe os direitos do autor nem da editora.