Monstro

Ossep Stefanovetch Schpetko (1869-1942) foi uma das figuras mais controversas e geniais de sua época. Poeta, editor e escritor modernista, o “primeiro boêmio da Galícia” e o autoproclamado “Tolstói da Ucrânia” viveu a primeira metade de sua vida em sua terra natal e a segunda metade em um autoexílio no Brasil. Sua trajetória é marcada por uma deliberada confusão entre o real e o inventado, entre a verdade e o fabuloso personagem que ele mesmo cultivava. A chave para desvendar a fratura entre o homem e o mito reside em Monstro, seu principal romance autobiográfico. A narrativa é estruturada como um ato de acusação sem precedentes. Após recusar um desafio de duelo por questões passionais, o protagonista Roman Lunevich escreve a um Tribunal Arbitral, não para se defender, mas para fornecer o material de sua própria condenação: “quem sou eu? O que sou? Não me conheço”. A partir desta premissa, Schpetko nos lança em uma confissão introspectiva e brutal. Acompanhamos a infância miserável e violenta de um garoto apelidado de “aberração”, cuja alma é moldada por surras e humilhações, tornando-o “mais fechado, mais hábil na arte de enganar, de mentir”. Da busca incessante pela “liberdade total” ao mergulho na violência, no crime e na amoralidade, Monstro é um mergulho corajoso na psique humana. Repleto de uma crueza psicológica ímpar, este clássico fundamental da literatura eslava e das ciências humanas se debruça sobre a moralidade, a fé, a liberdade e a construção de um eu indomável que insiste em se autodenominar, paradoxalmente, uma aberração. Inédita no Brasil, Monstro é a obra-prima controversa de um escritor que, ao tentar fugir para o mais longe possível, terminou seus dias no Paraná, deixando para trás um legado literário essencial que hoje é redescoberto.