Mindfulness: A fronteira entre atitudes automáticas e a consciência plena

A meditação mindfulness é simplesmente a maneira de prestar atenção à vida interior no momento presente. Através dela reconhecemos e afastamos reações emocionais automáticas que operam a nível inconsciente. Evitamos gastar tempo no passado inventando situações hipotéticas para o futuro – na maioria das vezes nem nos damos conta de que isso está acontecendo. Assim, a prática do momento presente nos oferece uma saída efetiva do labirinto do stress automático.

A prática do foco no momento presente permite desenvolver a constância de temperamento em qualquer circunstância da vida. Na verdade, o segredo do sucesso da técnica de meditação mindfulness está em ensinar a mente a reconhecer os estados emocionais em sua chegada, sem ser apanhada desprevenida por eles. Isso traz resultados palpáveis no dia a dia. O cérebro muda em relação aos comportamentos sociais na medida em que os neurônios em espelho, adaptados para reproduzir os sentimentos dos outros seres humanos em nós mesmos, nos empoderam com a empatia.

A grande mudança observada na estrutura do cérebro de pessoas que se habituam à meditação mindfulness se dá na forma da capacidade de formar novas células – o que neurocientistas chamam de neuroplasticidade. Meditadores têm maior densidade de neurônios na camada mais externa do cérebro, onde se alojam os neurônios articuladores do pensar, sentir, decidir e prosperar. Além desse aspecto, pesquisas demonstram que a meditação robustece o revestimento dos neurônios com uma fina camada de gordura conhecida como mielina. Esta substância confere maior velocidade para o processo de conexão das várias regiões entre si.

Mas para implementar essas melhoras, devemos meditar diariamente por pelo menos vinte minutos e pelo prazo não inferior a oito semanas. Na meditação mindfulness não se pode abrir mão do foco – trata-se de uma tarefa baseada no foco inarredável no momento presente. Ideias não convidadas surgirão como penetras e devem ser instadas a retornar de onde vieram, sem valor de juízo quanto ao conteúdo. A meditação mindfulness busca substituir o estado da mente ociosa pelo foco no aqui e agora.

Pesquisas demonstram que um número expressivo de pessoas é capaz de sentir o batimento do coração no peito; algumas são, inclusive, capazes de perceber o número de batimentos por minuto. Esse aspecto é de grande valor na técnica de meditação mindfulness proposta neste livro. A manutenção da presença do coração na memória de trabalho da mente é mais difícil do que manter um número ou uma imagem. No entanto, esse esforço encontra-se na base do processo de reunir os recursos da mente no momento presente.

Outro aspecto fundamental do mindfulness está no controle da respiração. Precisamos nos concentrar na expiração, que deve ser mais longa do que a inspiração. Na respiração mindfulness produzimos um ritmo respiratório calmo, pausado, em que a expiração é mais longa do que a inspiração. É comum observar que durante os primeiros exercícios de mindfulness, a mente fica um pouco sobrecarregada de instruções. Esse livro explica em passos sequenciais que a meditação mindfulness baseada em instruções é plenamente possível. Os resultados são surpreendentes.

Pessoas habituadas a sentir o ritmo do coração desenvolvem um tipo de regulação chamado top-down, que permite que nas etapas mais complexas da vida possamos sobreviver em cenários mais desafiadores. Durante inúmeros momentos em nossas vidas nos defrontamos com escolhas – como ao decidir se seguimos em frente voltamos para trás. Com experiência na meditação mindfulness criamos uma forma de controle capaz de deixar para trás as atitudes automáticas em favor da consciência plena.