Memórias de uma Menina Má

“Tênue é o elo entre as dimensões do sonho e da realidade. Durante noites sem conta o sonho se repete. Por vezes ocorrem pequenas modificações, detalhes quase insignificantes, de outras simplesmente se repete, no embalo, no giro incessante de um carrossel cheio de luzes e cores. No sonho perco a noção dos anos.” Episódios de abuso, intimidação, desamparo e desamor preenchem as páginas do diário de uma menina solitária em uma casa onde circulam apenas mulheres. Em suas memórias Bianca Lourenço Borges vai desvendando segredos, expondo o universo feminino naqueles dias de silêncio opressivo da década de setenta, em plena ditadura militar. No romance histórias se cruzam, confrontam e entrelaçam, cada uma delas protagonizada por mulheres frágeis, autoritárias, algumas apáticas e outras simplesmente à frente de seu tempo. Filha de imigrantes, criada em um tradicional bairro do subúrbio carioca, parte integrante de um cenário eminentemente feminino, Bianca sofre com a ausência constante do pai, o desprezo das colegas e a solidão do colégio de freiras. Arrogante, lenta, louca, são alguns dos atributos que vai angariando ao longo dos anos ao mesmo tempo em que questiona o modelo patriarcal e a inevitável submissão feminina. As lembranças da menina má vão se delineando no decurso dos capítulos, ao mesmo tempo em que convida o leitor à análise da narrativa. “Fui uma menina má? Sou uma menina má?” – Bianca se questiona. “O veredito está nas mãos do leitor.”