MEMÓRIAS DE UM SECRETÁRIO “AD HOC”, E AVENTURAS DE UM ORNITÓLOGO INGLÊS

Nesta narrativa, um secretário “ad hoc” conta a breve história ambientada na área metropolitana de Salvador, e que se reporta à decadência de uma pequena estância hidromineral, uma autarquia estadual ali situada desde a primeira metade do último século.

Os bons propósitos de seus gestores administrativos, nomeados pelo governo na segunda metade dos anos setenta, ocorrem no contexto de mudança ensejado pela perspectiva de implantação, em suas imediações, do Polo Petroquímico Metropolitano, um projeto de industrialização gestado sob o otimismo e as estratégias de desenvolvimento econômico do poder público.

As relações entre as duas circunstâncias histórico-culturais − as boas lembranças do passado, e as transformações e expectativas do presente −, envolvem distintos atores sociais nelas inseridos, os gestores, um ornitólogo inglês, uma jornalista, e moradores do vilarejo como principais protagonistas da trama em que se desenrolam tais relações. E os embates entre seus propósitos e desejos, valores, entendimentos e avaliações dos fatos transcorridos, suas repercussões mediatas e imediatas no pensamento e nas ações em que implicam seus distintos papéis no curso do tempo.

Sob a forma ficcional, a narrativa busca registrar a circunstância em que se dá tal embate num dado contexto histórico-cultural, entre a tradição dos costumes e a emergência do novo, numa comunidade e uma dada região. A perspectiva de transformação que impõe o inexorável movimento do tempo, e da forma como esse embate penetra e expressa a consciência e ação dos homens que, direta ou indiretamente, dele participam.

Trata-se de uma obra de ficção literária, sob o viés sociológico, por assim dizer, do conflito entre a tradição e a mudança, o velho e o novo. Isto é, da forma como se dá no contexto histórico-cultural de uma pequena comunidade da região metropolitana de Salvador, na segunda metade dos anos setenta do último século, como já foi dito.

Os fatos ocorrem numa conjuntura marcada pelo autoritarismo político, nas circunstâncias em que o conflito entre passado e presente se reflete na ação e na consciência dos homens que ali vivem e exercem determinados papéis. Isto é, na maneira subjetiva de ver e de falar de um objeto real, da oposição entre o velho e o novo no seu imaginário, e dos fatos do mundo objetivo, que se interpenetram no comportamento e no pensamento, como sujeitos e objetos da história em que se inserem.

Escrito em linguagem coloquial, à semelhança de uma novela ou romance jornalístico, por assim dizer, isto é, na forma de expressão literária que pareceu adequada para tratar o objeto e as circunstâncias da trama. E que, por suposto, introduz a singularidade do diálogo com a tradição, os costumes, a memória e os valores dos atores sociais nela envolvidos.

Os fatos se passam, portanto, num “locus” de cultura e transformação social. Um “ethos” de tradição e mudança, em que seus atores ou protagonistas se inserem de forma diferenciada, como são na vida real. E, como tal, orientam suas ações, elaboram o pensamento e expressam a subjetividade, como sujeitos ou objetos do inexorável movimento do tempo. Expressá-los sob a forma de ficção, em prosa coloquial, talvez seja o principal desafio e propósito de busca de originalidade.