Que roem pregam ao vácuo dentro de suas vísceras.
Mas se queimamos livros, ou os ignoramos
Para que o pó os sufoque e o mofo os mate aos poucos,
Será que nossos cérebros não valem menos
Que o intestino das traças? Pois elas aos menos
Dão algum uso aos livros.
Este livro conta a história da luta de uma jovem professora afegã – recém formada em literatura por uma das Universidades de Cabul – para instituir uma escola de educação infantil em sua aldeia natal. Para conseguir aprovar a escola, Malalai precisa enfrentar o preconceito, a desinformação e os ódios e rancores ocultos dos anciões e autoridades da aldeia, sendo que seu próprio avô e chefe da aldeia – Kala Khan – é seu mais feroz opositor.
Após alguns sucessos em convencer a população do vilarejo a aceitar a educação infantil, as coisas se complicam com a chegada à aldeia de um antigo membro do Talibã: mulá Mohamed Azzami. Sem que nenhum dos habitantes da aldeia soubesse, o exército americano estava observando os movimentos de Mohamed Azzami, e acaba por efetuar uma ação militar para prendê-lo. Eventualmente a ação dos militares americanos, a presença na aldeia de visões de mundo e culturas antagônicas e todo um caldeirão de tensões acabam por carregar a história cada vez mais para dentro das vísceras de uma tempestade de caos e revelação.
Malalai é uma história contada de forma poética, uma peça de teatro baseada na luta da jovem Malala Yousafzai pelo direito das mulheres à educação.
Porém a história de Malala, embora seja uma história de sofrimento, é ainda assim uma história de triunfo. Um trinfo lambuzado de sangue, com hálito de pesadelos e coroado com rosas cheirando à pólvora, mas ainda assim um triunfo. A menina enfrentou seus opositores e ficou viva para contar ao mundo sua história; a publicidade gerada pelo caso tornou a questão da educação feminina em áreas pobres e de risco um tópico ainda mais premente. Malala pôde mudar-se para um país que valoriza a educação e agora tem plena liberdade para perseguir seus sonhos e alimentar sua mente com quantas colheres de informação esta for capaz de engolir. Nada é tão simples, e é muito provável que os traumas e as más lembranças serão eternos, assim como serão eternas as sequelas físicas do tiro. O exílio em outro país e cultura – ainda que seja um país e uma cultura que ofereçam muitas oportunidades – é sempre algo doloroso. E, no entanto, há vida para viver, oxigênio para sorver, futuros para cinzelar. A história de Malala é a história de uma vitória.
Mas, e quanto a todas as Malalas não cantadas e desconhecidas que pereceram na luta em prol da liberdade? E quanto a todas as Malalas que estão agora mesmo enclausuradas entre quatro paredes, com toda a galáxia na qual a mente humana exercitada e alimentada é capaz de incendiar-se mofando no cinzento dia nublado do não uso? E quanto a todas as Malalas que tentaram sair da casca, que ergueram os braços de sua esperança, porém foram pisoteadas e esmagadas de novo para dentro de suas conchas, onde agora sufocam, trêmulas, meros moluscos anêmicos lambuzados por temores paralisantes, comendo cada refeição com o gosto do trauma e dormindo cada noite com o terror sentado em suas camas? Será que essas Malalas abortadas, essas Malalas que morreram ainda em estado fetal não merecem também uma canção?
Esta obra é uma tentativa de resposta.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Matheus Martini Spier
- ASIN: B08R6BL5BB
- Editora: Matheus Martini Spier
- Idioma: Português
- Tamanho: 717 KB
- Nº de Páginas: 199
- Categoria: Literatura e Ficção
Amostra Grátis do Livro
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