O nosso Epico, o immortal auctor dos Lusiadas, o escriptor que fez com que o estrangeiro náo esquecesse de todo o nome portuguez,’tudo isto se diz que foi Luiz de Camòes. A fibra patriotica julga-se quite da divida de gratidáo ao grande Poeta com ter-lhe erigido um monumento de gosto duvidoso, em sitio acanhado da capital, e com pronunciar o seu nome quando lhe dizem os desalentados que Portugal ç uma terra morta. Mas, por se orgulharem tanto de ser filhos do mesmo torráo em que nasceu Camòes, nem por isso esses, que tantas vezes lhe citam o nome, sentem tentaåáo de tomar conhecimento, sequer passageiro, do que elles dizem ser um padráo das nossas glorias; e, náo fallando nos que propriamente se dedicam aos estudos litterarios, porque a esses incumbe o dever de conhecerem as obras do nosso Poeta, raro se encontrarß nas classes illustradas um portuguez que dos Lusiadas tenha lido mais que as poucas oitavas selectas, que se encontram nos compendios de instrucåáo. Assim, ao passo que o inglez, o allemáo ou o francez menos dado ßs lides litterarias, mas que se preze de ter uma educaåáo regular, conhece, possue, lè e cita amiudadas vezes Shakespeare, Milton e Byron, ou Schiller e Goethe, ou Moliære e Lafontaine, nðs, despresando as joias de metal sem liga pelos enfeites de ouropel, fallamos de Camòes quasi como os cegos poderáo fallar da luz. E o mal ç tanto maior quanto uma audaciosa escola contemporanea tenta arrogar-se o exclusivo de fallar verdade, de photographar a natureza, como dizem os seus corypheus, dando a entender que o que antes d’elles se escreveu era tudo falso, que ninguem tinha habilidade para copiar a natureza, e que sð elles sabem chamar as cousas pelo seu nome! Náo nos permittem as nossas poucas foråas entrar na liåa contra essa escola, que hoje parece ter assambarcado o gosto e os louvores do publico; sð quizeramos pedir respeitosamente aos thuriferarios do novo idolo, que consintam a algum retrogrado da arte o conservar no mais intimo do seu espirito a crenåa de que, em tempos que jß lß váo, houve quem escrevesse com realidade, quem pintasse a natureza tal como ella ç; consintam-lhe que, lendo o pobre Camòes, encontre n’elle descripåòes verdadeiramente reaes ou realistas, porque sáo apenas verdadeiras. Para se ser poeta, verdadeiramente poeta, para se fallar poeticamente da natureza ou das artes, náo basta ter a inspiraåáo do rythmo, saber alinhar palavras ora altisonantes ora docemente musicaes; ç necessario conhecer a natureza, conhecer as artes e as sciencias de que se quer fallar, ç necessario sentil-as, consubstanciar-se com ellas. Para fallar de astronomia, ainda mesmo poeticamente, ç necessario conhecer os astros; para fallar do mar ç necessario ter percorrido os oceanos, ter presenciado as tempestades, ter soffrido com o marinheiro, porque quem náo sabe a arte, náo na estima (Lus. V, 97
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Eå
- ASIN: B00AFE55QK
- Editora: Library of Alexandria
- Idioma: Português
- Tamanho: 347 KB
- Nº de Páginas: 48
- Categoria: História
Amostra Grátis do Livro
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