LIÇÕES DE ALQUIMIA: noções de autoajuda
Por PAULO CÉZAR PAZLogo acima das moradas (barracos) dos rapazes, havia um platô – o Cocuruto – como eles o apelidaram, onde a companhia telefônica instalou uma grande antena e construiu uma casinha de força, ambas rodeadas por uma alta e reforçada parede, que foi rebocada com uma massa muito forte, encimada por uma cerca elétrica e por arame farpado, e ali, eles passaram a se reunir com mais frequência. O local era adequado para quem precisava de trocar ideias a respeito de ações inconfessáveis, e traçar planos escusos que apenas poderiam ser conhecidos pelos membros da “Gangue”, como eles se denominavam. Do Cocuruto, por meio de binóculos, eles tinham uma ampla visão de parte da cidade, de uma igreja em cujo estacionamento alguns deles iam praticar seus furtos, casas com promissoras possibilidades de oferecer algum retorno e, infelizmente, para eles – o “Caixotão” – o presídio recém construído do presídio, logo ali abaixo, ao lado do campo de futebol, no começo da única ruazinha da ocupação – denominada “Rabicho”. Os barracos estavam situados num prolongamento de rua morro acima, onde terminava o calçamento do bairro e onde os ocupantes pobres ou miseráveis ergueram seus barracos, compostos, na maioria, por uma mistura de alvenaria e latas (folhas de zinco e latas de qualquer tipo abertas), cobertos, invariavelmente, por telhas de amianto. Era o “Rabicho”, como os próprios moradores, jocosamente, o chamavam. Grande parte dos moradores do Rabicho era composta por operários e empregadas domésticas, prestadores de serviços às elites e à classe média, pessoas que enfrentavam dificuldades para sobreviver, e tinham incertezas de todos os tipos como suas mais fieis companheiras. Os rapazinhos da “Gangue” – preferiam não enfrentar as condições impostas pelas supostas classes médias e altas e viviam à margem da sociedade. Para tal, praticavam pequenos furtos, arrombavam carros, arrombavam casas e – principalmente, traficavam drogas. A instalação da antena tornou-se o ponto de reunião da “Gangue” e foi o local onde a irmã (Sebastiana) de um dos membros (Técio) passou a subir para falar a respeito de algumas teorias transformadoras que lhe estavam sendo passadas por sua recém conhecida patroa, e explicar-lhe as transformações que as técnicas de tal ciência – o Feng shui – e as noções de autoajuda, das quais sua patroa também era uma estudiosa fervorosa, podiam provocar na vida das pessoas. Técio amava a irmã e ela retribuía este amor. Para tanto, vez ou outra, subia até ao Cocuruto para pitar um baseado com a turma e explicar para o mano como os ensinamento da autoajuda e as teorias do Feng shui podiam agir, positivamente, nas tomada de decisões de uma pessoa. e exortá-lo a praticar esses ensinamentos visto que, entre outro motivos, ela desejava vê-lo se dando bem e, principalmente, ele havia se tornado “de maior” e, dessa data em diante, ele havia perdido a proteção da “Carta” – a Carta de Proteção à Criança e ao Adolescente e, em caso de qualquer infração, seu destino seria o “Caixotão”, com todas as suas implicações e consequências. Embora, aparentemente, Técio não estivesse dando ouvidos às palavras da irmã, ele estava sim, disposto a transformar sua vida entrando por outros caminhos, não legais, é claro, mas, menos concorridos e que exigissem algum tipo de especialização. Assim, ele traçou um roteiro: primeiro, era necessário conseguir algum dinheiro, para colocar tal plano em andamento e, após muito pesquisar, escolheu um alvo que pensou ser adequado para lhe fornecer o dinheiro. Para tanto, o rapaz conseguiu um revólver emprestado, uma touca ninja, e, em certa madrugada, desceu a ruazinha do Rabicho. E pôs mãos à obra.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): PAULO CÉZAR PAZ
- ASIN: B09KBGNJCR
- Idioma: Português
- Tamanho: 1746 KB
- Nº de Páginas: 50
- Categoria: Ação e Aventura
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