Latino–americana como eu: as correspondências de Gabriela Mistral e Victoria Ocampo (1926 – 1956)

O livro que chega às mãos do(a) leitor(a) é resultado de uma primorosa pesquisa realizada por Ana Beatriz Nunes Mauá dos diálogos epistolares desenvolvidos durante trinta anos entre a poeta, educadora, consulesa e educadora chilena Gabriela Mistral e a promotora cultural e escritora argentina Victoria Ocampo, figuras de renome no campo da cultura latino-americana. Praticando uma escrita cuidadosa e municiada de rico arcabouço teórico e metodológico exigido para o trato das Escritas de Si, Ana Beatriz explorou as potencialidades das respectivas trajetórias, os usos que deram às epístolas. E o fez refletindo e problematizando a documentação, analisando e discutindo as cartas como fontes e objetos de estudo.
A partir de perspectivas que envolvem as relações de gênero, a autora demonstrou inúmeras possibilidades apresentadas pela documentação para se discutir limites enfrentados por mulheres – independentemente de posição social – para ocupar lugares e espaços, sobreviverem e alcançarem reconhecimento a partir do trabalho intelectual, bem como as buscas por interlocutores que lhes colocassem em contato com o mundo das sociabilidades intelectuais. Seu texto evidencia a complexidade das personagens e nele tomamos contato com muitas “Victórias” e “Gabrielas”. Encontramos duas mulheres intelectuais que buscaram representar-se a partir de distintos modelos de feminilidade, expondo a inadequação às condutas normativas existentes, que não davam conta de suas aspirações criativas e intelectuais.

Romilda Costa Motta
Doutora em História pela USP e pesquisadora em História das Mulheres e Relações de Gênero