Larissa

” Larissa abriu os olhos. Pela luz que entrava pela janela, percebeu que já era tarde. Um dia de sol, e já devia ser perto de meio dia, ou mais. Permaneceu deitada por alguns minutos, imóvel, com os olhos fixos no teto do quarto. Se o corpo estava imóvel, a mente, por outro lado, já trabalhava frenética. Pensava na decisão que havia tomado, e principalmente na noite que tivera. Levantou-se da cama, nua, como gostava de dormir. Calçou os chinelos, cuidadosamente deixados ao lado da cama e andou até o banheiro, os seios balançando suavemente no ritmo dos passos. Lavou o rosto e sacudiu as mãos para tirar o excesso de água. Puxou a toalha do suporte na parede, secou as mãos e o rosto, depois encarou a si mesma no espelho por um longo tempo. Encarava a si mesma, ou à outra em que se tornara? Ou ambas eram ela, sendo apenas dois lados da mesma moeda? Quem, de fato, era ela? Não sabia mais a resposta correta para essa pergunta. Grandes mudanças não acontecem sem despertar dúvidas. “Mas talvez”, pensou, “ninguém saiba de fato. Talvez tudo seja apenas uma questão de criar para si um personagem e interpretá-lo ao longo da vida. Na verdade, não apenas um. Na verdade, normalmente interpreta-se um personagem diferente em cada setor da vida. Um no trabalho, um com a família, um com os amigos, e assim por diante. A questão, de fato, é: Qual deles é o verdadeiro?” Refletiu um pouco sobre isso, e chegou à conclusão de que todos o são. “No fim das contas, somos atores que colocam um pouco, ou às vezes, muito de si em cada papel que representam ao longo da vida. O que não quer dizer que nenhum seja verdadeiro. Todos o são. Não sei se esse pensamento me tranquiliza ou se me inquieta ainda mais. Porque estou sendo eu mesma, quando seria mais confortável pensar que não estou”.