Kairós: Poesia

Há muito tempo as ruínas começaram a me intrigar, a me fazer pensar, a lançar questionamentos sobre mim.

Inicialmente foram ruínas físicas de casarios, de civilizações, observadas durante viagens por vários países. Foram ruínas de todo tipo:  gregas, romanas, maias, incas, astecas que gestava em mim uma necessidade de verbalizá-las.

Este livro nasceu desta necessidade crescente que tive de lançar um olhar sobre as ruínas. Kairós veio como um tributo a elas, ou seja, ruínas é a metáfora do livro, sejam elas ruínas provocadas pelo fluir do tempo, por desajustes nas relações sociais, por desrespeito às questões ambientais, por desrespeito à diversidade de crença, por desrespeito à diversidade cultural, por desrespeito à diversidade racial, à orientação sexual, ou ainda ruínas por alterações de comportamento, e degeneração do próprio ser.

Então, o que a ruína está trazendo para mim, que sentimentos, que informações? O que a ruína está comunicando a mim e como posso atuar?

Aí veio a pandemia e uma nova ruína foi instalada: o distanciamento social, a privação do convívio.

Qual a reflexão, qual a mensagem que os poemas podem trazer para mim?

Como posso repensar, redirecionar ou reconstruir essas ruínas? Onde posso atuar?

Mas qual seria o título? Eu procurava um título que me desse essa dimensão do tempo, que ia além do cronológico, um tempo que fechasse ciclos, um tempo que abarcasse toda a dimensão do que foi, do que tinha sido.

Eu queria fazer uma referência ao tempo, mas as ruínas ultrapassavam o tempo, mostrava a impermanência das coisas, dos acontecimentos. Estavam para além do tempo cronológico.

Então veio a mim a palavra KAIRÓS que é o tempo oportuno, o tempo de Deus, onde tudo acontece, onde os ciclos se completam.