JORNALISMO POLICIAL: HISTÓRIAS DE QUEM FAZ

A cobertura policial é uma das áreas mais fascinantes e controversas do jornalismo. Primeiramente, por lidar com o crime, um velho pecado da humanidade, que sempre despertou o interesse público, desde os famosos envenenamentos de autoridades reais na Idade Antiga. Em segundo lugar porque, nesse tipo de cobertura (mais do que nas outras) pontos-chave do jornalismo, como o relacionamento com as fontes, a apuração e a maneira de contar o fato, precisam ser cuidadosamente trabalhados, para garantir a proteção do entrevistado (no caso de informantes ameaçados de morte), evitar a acusação antecipada ou a espetacularização da notícia, que desemboca no temido sensacionalismo.
Paradoxalmente, o jornalismo policial é ainda pouco estudado e debatido nos âmbitos profissional, acadêmico e literário. Raros são os cursos e especializações que contemplam esse tipo de cobertura, assim como títulos sobre o assunto no mercado editorial brasileiro. Mesmo nas faculdades de Jornalismo, normalmente uma certa dose de preconceito faz com que o tema seja abolido das discussões entre docentes e discentes. Esse tipo de cobertura, por abordar, na maior parte das vezes, fatos relacionados às camadas mais populares da sociedade costuma ser visto como algo menos importante que o jornalismo político ou econômico, os quais tratariam de questões “vitais” para a população.
No entanto, o jornalismo policial é significativo por refletir as mudanças de comportamento de nossa sociedade. É fundamental para entender o ambiente em que vivemos e, se bem analisado, pode ajudar na formulação de políticas públicas em diversas áreas, como na de Segurança.
As mudanças que o jornalismo policial vem sofrendo ao longo dos anos, especialmente comparando sua realização no Brasil nas primeiras décadas do século XX com a dos dias atuais, já seriam motivo suficiente para se debater o assunto com mais frequência, apontando caminhos para quem gosta ou deseja atuar na área.
Com o objetivo de oferecer uma análise sobre esse tipo de cobertura, a partir do ponto de vista daqueles que se dedicam diariamente a ela, os alunos do 4º ano de Jornalismo da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) apresentam este livro com entrevistas exclusivas com os principais profissionais que atuam no setor. As pingue-pongues foram realizadas em 2008, como parte da avaliação da disciplina “Entrevista e Pesquisa Jornalística”, ministrada por mim, na ocasião. Por isso, o leitor deve considerar que os dados presentes nos textos se referem àquele ano.
Dezessete jornalistas que cobrem ou já cobriram o jornalismo policial foram entrevistados: Percival de Souza (Rede Record), Fernando Molica (Rede Globo), Renato Lombardi (TV Cultura), Marcelo Rezende (ex-Rede Globo, RedeTV!, entre outros), Domingos Meirelles (Rede Globo), Luiz Malavolta (Rede Record), Josmar Jozino (Jornal da Tarde), Gil Gomes (Rádio Record), Robinson Cerantula (Rede Globo), Fátima Souza (ex- SBT, TV Cultura, Diário de São Paulo, TV Bandeirantes e Record, e que hoje atua de forma freelancer em sua cooperativa), André Caramante (Folha de S.Paulo), Bruno Paes Manso (O Estado de S.Paulo), Afanazio Jazadji (SBT, ex- Agência Folha ,TV Globo, Rádio Jovem Pan, Rádio Excelsior, Rádio Globo, Rádio Capital, Rádio Tupi, entre outros veículos), Gio Mendes (Diário de S.Paulo), Fausto Salvadori (ex-Agora São Paulo), Marco Antônio Zanfra (ex-Agência Folha, Folha da Tarde e Diário Popular) e Pantera Lopes (assessor da Delegacia Geral de Polícia de São Paulo).
Os estudantes foram orientados a entrevistar profissionais de diferentes idades, estilos e mídias, para captar “olhares jornalísticos” diversos e descobrir as peculiaridades da cobertura policial em cada meio de comunicação.
O resultado desse trabalho é o traçado de um panorama do jornalismo policial no século XXI.
Jornalismo policial: Histórias de quem faz é um retrato-falado imperdível da área. Esperamos que o livro estimule novos debates e títulos sobre o tema.
Profª Ms. Patrícia Paixão