Hamlet: Drama em cinco Actos
Por William Shakespeare Um direito o nosso tempo conquistou plenamente—o direito de heresia. Muitos outros tentou proclamar, desde o meiado do século XVIII até hoje. Pela sua vitória se esforçou e sacrificou. Mas, se muitos quiz e por momentos imaginou possuir, quasi outros tantos surgiram e se apagaram com a rapidez e mágoa com que invariávelmente se desfazem ilusões e esperanças mal fundadas. O direito de heresia, o direito de discutir, contestar e negar todas as ideias por qualquer modo dominantes, todas as convenções estabelecidas, todos os dogmas, todos os principios e todos os preceitos da religião, da filosofia, da arte, da sciencia, da politica, e de quanta afirmação o nosso pensamento sonhe ou imponha, quer na vida concreta, quer na vida puramente especulativa, o direito que implica a faculdade de regeitar no govêrno da nossa actividade espiritual e material toda a autoridade independente de restricção e de crítica—êsse logrou, porêm, prevalecer atravez de todas as vicissitudes a que o tiveram e teem sujeito multiplos e vigorosos despotismos, sempre fáceis em renascer das próprias cinzas. Abolidas as divindades, as sagradas como as profanas, as que se adoram nos templos como as que se lisongeiam nos palácios, é legítimo duvidar da crença religiosa como da crença política, podemos sem ofensa dos homens e respeitando a nossa consciência desconfiar de muito civismo e de muito patriotismo envelhecidos e envilecidos por diversa corrupção, podemos duvidar da justiça, e até da dignidade, de muito orgulho nacional, pervertido por íntima ruindade. É isso tão legitimo, de uma tão genuina fidelidade à razão, como o desdem das iras olimpicas de Jupiter, ou a revolta contra as fogueiras da Inquisição, ou a libertação da tirania de todos os cesares, sejam êles coroados por direito divino ou aclamados pela insensatez e pela ingenuidade da soberania popular. «Libertamo-nos dos abusos do velho mundo; carecemos de nos libertar das suas glórias», disse Mazzini. E isso, que algum dia poderia parecer blasfemia do revolucionário, encerra hoje apenas uma modesta e incontestada insinuação e autorização de livre exame. Muito heroismo houve que o passado glorificou e o futuro converterá em ignominia, muito fraqueza vilipendiada o tempo nos tornará em merecimento e honra, muita virtude foi crime, muito crime foi santidade, muita prudência foi loucura, muita loucura foi acerto. O cataclismo de 1914, turvando em ansiedade todos os corações, onde corações encontrou, ainda os mais débeis, foi um ensejo tremendo dêsse direito de heresia que uma lenta e progressiva insistência anterior havia constituído e estabelecido firmemente em o nosso espirito; foi um ajuste de contas correspondente à magnitude sem precedentes da guerra que êle soltou. Verdadeiras religiões politicas e sociais, como a ordem, a riqueza, o nacionalismo, o socialismo, o resplendor militar, as egrejas, o império, e até o próprio cristianismo, foram chamadas a uma revisão sevéra dos respectivos valores e a uma determinação dos seus caracteres e responsabilidades; e dessa revisão sairam profundamente alteradas na sua nobreza, na sua razão e pureza, e na sua mais humilde utilidade. Palavras que eram um paládio transfiguráram-se em espéctros, muito resplendor se apagou, muita treva se iluminou, muito poder se arruinou, muito fetichismo se desfez. De algumas dessas heresias, que tenho por fundamentais e destinadas a uma influência incalculável no futuro das sociedades humanas, colhi nestas folhas umas breves notas, na esperança, senão na certeza, de que não pouco poderão esclarecer, e sobretudo fortalecer, nestas horas de angustia, os que as meditárem
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): William Shakespeare
- ISBN-10: 1535428139
- ISBN-13: 978-1535428132
- ASIN: B00AHDHFK8
- Editora: Library of Alexandria
- Idioma: Português
- Tamanho: 582 KB
- Nº de Páginas: 98
- Categoria: Literatura e Ficção
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