Haikai

“Uns traçam seu destino

suspensos na corda bamba

outros observam do chão.”

Marcelo Frazão optou pela corda bamba. Sabe os perigos que o haikai oferece. Sabe que a palavra supérflua é mortal. Sabe que, neste jogo, só sobrevive aquele que possui o dom da economia. Um passo em falso e tudo se esvai.

Um lance de precisão:

“Sob a luz da noite

não vejo seus olhos e erro

as portas da sua alma.”

Se a cena for demasiado rápida, repita. O haikai – poucos recursos para inúmeros significados – tem seu ritmo próprio. Sutilezas de claro-escuro noturno, cortinas que abrem e fecham.

“Sob a luz da noite

não vejo seus olhos e erro

as portas da sua alma.”

O sentido cabe a cada um. Não para cristalizar o achado mas flagrá-lo à luz de um momento.

“Absorto no caos

o Eterno cultiva estrelas

como quem cria pérolas.”

Frazão continua na corda bamba. Irônico, sabe que é necessário temperar a vida com o amor fugidio:

“O amor

só pode ser em forma de gás

hilariante, lacrimogênio.”

E temos composto o quadro: o amor, o destino, o Eterno. Em poucas linhas, em poucos traços. Sugestões para interpretações. Como quando abrimos, ao acaso – e este é um livro para ser lido ao sabor do aleatório – o I Ching e descobrimos o que buscávamos.

Uma observação. Evite as armadilhas do texto: desconfie do que lhe parece óbvio. E agora, se você estiver preparada ou preparado, entre no clima oriental para os trópicos.

Marcelo Frazão, da corda bamba, nos deseja os perigos / prazeres do equilibrista.
Pedro Garcia