Gemebundos (A Tragédia Humana Livro 8)
Por José Humberto da Silva Henriques Na cabeça do escritor estava em andamento mais um volume. Uma vez perguntado sobre esse episódio hilário, rocambolesco, furibundo, Henriques não sabe se ele está inserido em alguma página do romance. Mas é bem provável que esteja por conta da marca do acontecimento. Era um ato bastante expressivo. Então, era preciso ajudar Aecinho a subir no caminho de bombeiros. Só que havia um problema. Marcos Montes não ia mesmo permitir que vivalma fizesse isso. Tinha que ser ele. Assim fazendo, estaria bem lá no cabeço da carroceria do caminhão, bem ao lado de Aecinho, xifópagos elementares e decididos. Ocorre que havia uma aglomeração em torno da escadinha dos bombeiros, a que permitia que cada m subisse sem o risco grande de levar um tombo dali e machucar os quartos.
Pois que foi um momento de grande euforia entre todos. Aecinho estava para subir no caminhão. O avô dele, Tancredo Neves, já havia subido além do caminhão havia muito tempo. Subira aos céus ou descera aos infernos, vá lá se saber direito a quantas questões andam os mandamentos eternos. Então, Marcos Montes deve ter ido apanhar uma água, qualquer coisa assim, mesmo que seja um picoo de limão. Isso tudo foi contado pelo romancista. Henriques, comunzinho de mundo, estava ali, esperando que todos subissem, depois ele subiria e permaneceria lá na rabeira da turma. Não via problema nisso. Então, já se dispunha a subir o deputado Aelton. Quando o deputado Marcos Montes percebeu que o outro estava mais próximo de Aecinho do que ele mesmo, correu e empurrou, aplicou umas braçadas e cotoveladas para mais se aproximar de seu ídolo, príncipe e presidente.
Então, no furor do momento, naquele empurra e grita, resfolega e acotovela, baba e vocifera, chuta e lacrimeja, a visão do inferno estava determinada. Aecinho tinha subido. Eu estava ali, ao lado do Aelton Freitas. Conta Henriques. De repente, para subir depressa e ates que alguém tomasse o seu lugar ao sovaco do Aecinho, Marcos Montes surgiu qual um bólido e passou uma belíssima rasteira no Aelton. O deputado Aelton foi ao chão e ficou ali, meio estendido no meio-fio. Pode ter sido só um embaraça-canelas sem proposito. Pode ter sido somente um acidente. Um tombo sem intenções. Ocorre que o caso foi assim. Diz ainda Henriques, fui eu quem estendeu a mão para que o deputado se erguesse e subisse pela escadinha. Ele vestia uma camisa de seda de mangas longas, uma coisa absolutamente démodée. E já havia nas axilas aquela bola de suor que delata o Triângulo Mineiro.
De sorte que eu, conta Henriques, era aquele que mais perto estava do acidentado. Estendi a mão e o retirei daquele chão de asfalto sujo e duro. Assim, todos já haviam subido no caminhão. Lá na frente, ao lado de Aecinho, quase que querendo entrar nas roupas do governador, estava Marcos Montes. Aelton ficou mais atrás. E havia gente ali que parecia remanescente dos infernos, outros deputados e prefeitos que vieram de longe para a tal carreata. Na verdade, diz o romancista, foi muito bom ter dado a mão ao Aelton. Isso é um gesto cristão bem simples, ajudar a outrem sem olhar a quem. Alguma coisa assim. Porém, a se pensar bem, devia ter deixado o homem lá no asfalto. Ele ia se levantar sozinho, não era esse um problema para ele. Algum tempo depois, o deputado Aelton se tornava na boca do povo um dos mais sujos elementos da política nacional. Foi flagrado por câmeras de TV a escolar seus adeptos a comprar votos. Deu o preço de 100 reais para cada voto comprado. Um sujeito miúdo, insignificante e que não abe direito a que veio ao mundo, senão para enfiar a mão na coisa pública e enriquecer.
Lá de cima do caminhão, eu era dos mais da rabeira, quando algum amigo me via, algum conhecido mais antigo, a minha vontade era me esconder e deixar que o caminhão achasse seus rumos. Porém, muita gente me via e me saudava. Assim conta Henriques. Esse foi um dos dias mais vergonhosos da minha vida. Eu me sentia envergonhado em plena campanha política. E temi muito chegar mais
Pois que foi um momento de grande euforia entre todos. Aecinho estava para subir no caminhão. O avô dele, Tancredo Neves, já havia subido além do caminhão havia muito tempo. Subira aos céus ou descera aos infernos, vá lá se saber direito a quantas questões andam os mandamentos eternos. Então, Marcos Montes deve ter ido apanhar uma água, qualquer coisa assim, mesmo que seja um picoo de limão. Isso tudo foi contado pelo romancista. Henriques, comunzinho de mundo, estava ali, esperando que todos subissem, depois ele subiria e permaneceria lá na rabeira da turma. Não via problema nisso. Então, já se dispunha a subir o deputado Aelton. Quando o deputado Marcos Montes percebeu que o outro estava mais próximo de Aecinho do que ele mesmo, correu e empurrou, aplicou umas braçadas e cotoveladas para mais se aproximar de seu ídolo, príncipe e presidente.
Então, no furor do momento, naquele empurra e grita, resfolega e acotovela, baba e vocifera, chuta e lacrimeja, a visão do inferno estava determinada. Aecinho tinha subido. Eu estava ali, ao lado do Aelton Freitas. Conta Henriques. De repente, para subir depressa e ates que alguém tomasse o seu lugar ao sovaco do Aecinho, Marcos Montes surgiu qual um bólido e passou uma belíssima rasteira no Aelton. O deputado Aelton foi ao chão e ficou ali, meio estendido no meio-fio. Pode ter sido só um embaraça-canelas sem proposito. Pode ter sido somente um acidente. Um tombo sem intenções. Ocorre que o caso foi assim. Diz ainda Henriques, fui eu quem estendeu a mão para que o deputado se erguesse e subisse pela escadinha. Ele vestia uma camisa de seda de mangas longas, uma coisa absolutamente démodée. E já havia nas axilas aquela bola de suor que delata o Triângulo Mineiro.
De sorte que eu, conta Henriques, era aquele que mais perto estava do acidentado. Estendi a mão e o retirei daquele chão de asfalto sujo e duro. Assim, todos já haviam subido no caminhão. Lá na frente, ao lado de Aecinho, quase que querendo entrar nas roupas do governador, estava Marcos Montes. Aelton ficou mais atrás. E havia gente ali que parecia remanescente dos infernos, outros deputados e prefeitos que vieram de longe para a tal carreata. Na verdade, diz o romancista, foi muito bom ter dado a mão ao Aelton. Isso é um gesto cristão bem simples, ajudar a outrem sem olhar a quem. Alguma coisa assim. Porém, a se pensar bem, devia ter deixado o homem lá no asfalto. Ele ia se levantar sozinho, não era esse um problema para ele. Algum tempo depois, o deputado Aelton se tornava na boca do povo um dos mais sujos elementos da política nacional. Foi flagrado por câmeras de TV a escolar seus adeptos a comprar votos. Deu o preço de 100 reais para cada voto comprado. Um sujeito miúdo, insignificante e que não abe direito a que veio ao mundo, senão para enfiar a mão na coisa pública e enriquecer.
Lá de cima do caminhão, eu era dos mais da rabeira, quando algum amigo me via, algum conhecido mais antigo, a minha vontade era me esconder e deixar que o caminhão achasse seus rumos. Porém, muita gente me via e me saudava. Assim conta Henriques. Esse foi um dos dias mais vergonhosos da minha vida. Eu me sentia envergonhado em plena campanha política. E temi muito chegar mais
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): José Humberto da Silva Henriques
- ASIN: B0755ZS9RK
- Idioma: Português
- Tamanho: 1876 KB
- Nº de Páginas: 360
- Categoria: Literatura e Ficção
Amostra Grátis do Livro
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