Os romances genuinos da tradiäào oral do povo foram pela primeira vez recolhidos na Silva de varios, em 1550, tendo sido anteriormente glosados pelos poetas cultos hespanhoes da corte de Joào II e Henrique IV; no seculo XVI receberam uma fïrma litteraria, dada por Lope de Vega, Gongora, Fuentes, Lasso de la Vega, Juan de la Cueva e outros. O mesmo facto se deu em Portugal: Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Jorge Ferreira de Vasconcellos, Francisco Rodrigues Lobo, Dom Francisco Manoel de Mello e Balthazar Dias, glosam e imitam os romances populares, jÞ cantando os feitos da nossa historia, jÞ as faäanhas da guerra de Troya e de Roma, da Tavola-Redonda e de Carlos Magno. Convinha colligir estas flores dispersas, por onde se mostra que o movimento litterario operado em Portugal no seculo XVI e XVII era analogo ao de Hespanha; sem ellas o Cancioneiro e Romanceiro geral portuguez seriam uma obra truncada e imperfeita.{vj} Nào se pïde conhecer a litteratura portugueza ignorando as phases das litteraturas da edade media da Europa. Como a formaäào das linguas, do direito, da religiào e das instituiäñes sociaes, nenhum facto faz sentir mais do que a litteratura a unidade de raäa dos povos neo-latinos. Quasi todas as transformaäñes que experimentaram as litteraturas italiana, franceza, hespanhola e provenäal,…quer na forma das primeiras poesias, nas novellas cavalheirescas, nas Chronicas ou nos contos decameronicos, no romance popular ou no sentimento da natureza despertado pela Renascenäa,…tudo, abertamente o sustentamos, se encontra, mais ou menos rudimentarmente, na litteratura portugueza. Foi a poesia dos jograes que soltou os dialectos neo-romanos da sua gaguez pelo canto; em Portugal vemos tambem que os primeiros monumentos linguisticos sào em verso, essas canäñes dos seculos XII e XIII, que os criticos nào tem sabido avaliar. Como conclusào dos estudos sobre a poesia popular portugueza, parecerÞ que este povo nào tem uma poesia privativamente sua, filha espontanea do seu genio. As creaäñes epicas que aê ficam nos romances colhidos da bocca do povo acham-se, æ verdade, com alteraäñes accidentaes nos Romanceiros hespanhoes. Devemo-nos desgostar com a falta de originalidade? Deveriamos abandonar a missào de recolher essas venerandas reliquias, por isso que nào ha n’ellas uma feiäào propria? Os romances pertencem ao povo hespanhol pela fatalidade da raäa e pelo estado social que os produziu. Nào sðmos nïs do mesmo sangue, do mesmo tronco celtibero? nào soffremos nïs as mesmas modificaäñes no cadinho da edade media da Europa? O facto de apparecerem os romances cavalheirescos{vij} hoje em hespanhol æ devido a uma circumstancia material, Þ curiosidade dos livreiros de Sevilha, Saragoäa e Anvers; entre nïs nào se curou d’isso, mas nem por isso o povo portuguez deixou de cantar e poetisar as suas tradiäñes. A parte mais bella dos romances hespanhoes constarÞ, quando muito, de cem romances anonymos, os quaes se nào referem a factos particulares da historia; estes mesmos andaram na tradiäào portugueza no seculo XVI, em tempo que a mente dos dois povos os elaborava ainda. (Leis de formaäào poetica, III e XIII).
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Various
- ASIN: B00AHDHF7Q
- Editora: Library of Alexandria
- Idioma: Português
- Tamanho: 586 KB
- Nº de Páginas: 197
- Categoria: História
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