Ficção em Polpa Carnuda: volume 3

O ambiente moldado é de mistério e ironia, sensualidade e caos, perversidade e uma fina parcela de abismo humano, para que o rito cruel do cotidiano possa atingir os capítulos de Gar, o humanoide; os versos do Vinho da Vida (E alguns cálices); a tormenta sexual de No meu olho esquerdo tem um inferno; as belas construções textuais de o Livro das Criaturas; as camadas da força feminina em Rarefeito.

Em Cartas no Labirinto (2014), Eliéser Baco nos trouxe motivos para nos aprofundarmos em seus textos, como no trecho “Pudera então dançando embriagado ou atônito hipnotizado, convulso ferido ou soturno estilizado manifestar um mero e pobre conjunto de atitudes, necessárias que seriam a fazer dos dois indivíduos um par, erráticos que fossem; par que não são, dos “ais” do suor cotidiano do ato selvagem que não mais são, que sequer puderam supor e endoidecer, e devanear, que foram.”

Agora, Baco enraíza personagens saídos do beco, não tão plásticos (na tentativa de estética textual), mas ainda bem elaborados, bebidos em outras tendências e referências, podemos supor.

É um soco verborrágico, como em: “Estamos na ânsia louca de sermos aceitos. Clicando, compartilhando e encaminhando pareceres bons sobre este mundo superficial e egoísta. Estamos industrializados. Tornando a vida virtual um sorriso falso da realidade. A posarmos cem vezes para encontrar a fotografia perfeita para enganarmos a nós mesmos e nossos “amigos”, cuja voz e o timbre não conhecemos e não conheceremos.”.

Ficção em Polpa Canurda – volume 3, é um sumo bom de degustar. Saboroso. Seguido de um tapa brusco na face da mesmice do que se escreve hoje, com mistérios e fetiches por resolver, por que não? Morda, apetitosamente.