EXERCÍCIO PARA O SALTO

A coletânea de onze contos reunidos no volume Exercício para o salto, livro de estreia de Cláudio Aguiar, tem como cenário duas cidades importantes: Olinda e Recife.
A crítica, por ocasião do aparecimento da obra de Aguiar, destacou vários aspectos que, de certa forma, apontam para uma unidade temática, embora o autor não tenha se preocupado com esse aspecto num livro que reúne histórias autônomas e independentes como, de resto, requer a própria natureza do conto. Sendo o conto uma narrativa breve que agasalha em sua estrutura vários procedimentos narrativos comuns, da mesma forma, por alguns deles, também se diferencia e adquire características especiais. Exemplo disso são a síntese inerente ao conto e a análise indispensável ao romance. A mais singela definição de que conto é tudo aquilo que se conta, por si só, já indica esse caráter especialíssimo da narrativa curta.
As histórias reunidas em Prisioneiros do tempo, apenas demarcadas por números, se, por um lado, as separa, por outro, não servem para negar a existência de um bloco coeso de vivências e de perfis de personagens que habitam Olinda e Recife num determinado tempo. Nem por isso, como destacou o escritor e crítico potiguar Manuel Onofre, estamos em Prisioneiros do tempo diante de uma novela, ao contrário do que afirmou o crítico Anchieta Fernandes.
Todos os demais contos são marcados pela trajetória de gente simples que vive ações aparentemente normais, sem que lhes ocorra façanhas e atos extraordinários, porém, todas, a partir de suas formas de verem o mundo em que vivem, terminam por provarem de situações que levam a tensões capazes de gerarem a iminência do acontecimento que, na verdade, provoca o interesse do leitor. Nesse sentido, o crítico e poeta Mauro Mota destacou possuir Aguiar “o poder de criação, presente inclusive na magia de fazer de um argueiro cavaleiro. Coisas e criaturas sem qualquer significação aparente, perambulantes da vida cotidiana, ele engrandece e pereniza na categoria de suas narrativas, com o ambiente em Olinda – viva na Rua do Amparo, nos Quatro Cantos, na Bica de São Pedro, nos padres do Seminário, nas procissões, nos fuxicos do sacristão Marcelino Padre Nosso, no seu carnaval e na sua música – e no Recife com os seus transeuntes pela ponte da Boa Vista, pela Rua Augusta, pela Rua da Aurora, pelo Ginásio Pernambucano, pela Rua das Florentinas, pela rua do Imperador até o homem do conto final morrer de vez, pois sabia que “viver é andar sempre para a morte”.