Ethos da Criação: Uma investigação a partir de Nietzsche

O presente livro consiste numa investigação sobre as possibilidades de conceber
uma ética de caráter estético a partir da filosofia de Friedrich Nietzsche, com base na noção
de criação no contexto de seu pensamento. Claramente revisitado e operado pelo filósofo
alemão junto às suas principais concepções, o sentido nietzschiano de criação seria caro ao
projeto intersticial ora sustentado de uma reconfiguração do ethos enquanto construção de
valores em função da atividade cósmico-fisiológica da vontade de poder, da
experimentação em consonância com a abertura trágica do mundo, afirmada artisticamente
como uma estética existencial que acha na arte seu horizonte de possibilidade. Optando
pelo uso da expressão criatividade, o autor apresenta um tipo humano criativo como
disposição materializadora dessa estético-ética, cunhado pela imagem de um ‘humano,
escasso humano’: este não seria o homem do ressentimento agrilhoado à metafísica e à
moral, nem o além-do- homem, enquanto experiência de ultrapassagem ou proposta para
lidar com o completo vácuo de sentido da vida, estando justamente ‘entre’ o homem
ressentido e o sobre-humano. Conforme o autor, esse homem criativo, raro, porque
‘escasso humano’, mostra-se em algumas figuras tipológicas delineadas por Nietzsche em
seu percurso filosófico. A interpretação sedimentada na presente obra denota os
argumentos extraídos do texto nietzschiano que indicam, sinalizam, suscitam a atividade
criadora, o conceito de experiência, o saber trágico, e o imperativo de afirmação da vida,
enquanto critérios formadores de um ethos alternativo às éticas tradicionais, cujo nome
arriscado por José Antônio Feitosa Apolinário é precisamente ethos da criação.