Eros

Os sete investigadores da Divisão de Narcóticos firmaram um pacto macabro. Deixaram o dinheiro da apreensão de cocaína, desviada da Justiça, em posse do delegado da equipe. Retaliados pelos traficantes, receavam que, com a morte dos policiais mais fracos, a parte do dinheiro destes se perdesse. No entanto, o policial mais inepto e desprezível insistia em não morrer. Era chamado por Rato, cujo apelido vibrava o desprezo recebido em toda a corporação policial e, apesar disso, sobrevivia a colegas mais fortes e valentes. Ao viver em situação extrema, passou a conheceu em si qualidades que nem ele próprio supunha possuir. Cada morte deixava nos restantes o sentimento de gozo, por estarem mais ricos, e de morte, por perderem um colega e confirmarem o poder de extermínio dos traficantes. O desprezado investigador se admirava consigo ao sobreviver aos companheiros de equipe, mais fortes e valentes, com os quais antes se fascinava, enquanto os jornais do país noticiavam seus feitos como o vingador dos policiais e da sociedade como um todo. No entanto, ao regozijo de ser um policial invulnerável, acrescia-lhe o assombramento por ver nascer em si potencialidades quase diabólicas no ataque aos inimigos. Contrariado, verificava no íntimo um gosto mais doce pelo extermínio humano que jamais imaginou sentir. Teria controle sobre esse gênio tão nefasto, quando o mundo o alçava à altura de herói e lhe caia aos pés porque fazia justiça sangrenta?
Mauro Judice tem 10 livros editados, vendeu cem mil livros físicos, possui peças teatrais de sua autoria encenadas e é roteirista de cinema. Tem livros escritos em gêneros que vão do policial à ficção científica, da trama psicológica às aventuras infanto-juvenis, além de ter excursionado na direção de algumas de suas peças. Porém, sua obstinada inclinação à busca das respostas mais profundas da alma campeiam por toda sua obra.