Entrevistas imaginárias

O ponto de partida deste e-book é homenagear a revista Interview, que eu lia compulsivamente nos anos 1980. As entrevistas eram apresentadas sem edição, transcritas integralmente, com todas as indicações do que aconteceu durante a gravação (risos, tosse, interrupções, lágrimas, acessos de cólera). Uma diversão total. Em uma delas, a convidada perguntava se um trecho da conversa poderia ser retirado. O repórter garantiu que sim. Mas tudo foi publicado na íntegra, naturalmente, pois a regra era essa. Às vezes a função do repórter era assumida por alguma celebridade, transformando o encontro numa entrevista dupla. O prazer era dobrado, já que informações vinham dos dois lados. A foto da capa e das matérias eram em tamanho pôster, acompanhando as dimensões gigantescas da revista, e geralmente eram fechadas num close-up radical. A capa era pintada como uma tela de Andy Warhol, artista plástico que editava a publicação. A Interview sobreviveu à morte de Warhol (em 1987), mas a linha editorial mudou. Ficou mais convencional e descaracterizada. Mesmo assim, a lembrança do fervilhante período inicial (de 1969 a 1987) vai permanecer na memória de quem pôde ler aquele material tão moderno e criativo. As entrevistas que você vai ler aqui são todas fictícias. Um exercício de imaginação delirante, para abrir as portas da percepção. Que nada. Até parece. Minha intenção não chega a tanto. É mais uma forma de relembrar de maneira nostálgica um tempo em que eu era mais feliz. Será? O passado sempre parece mais bonito porque os episódios ruins foram todos devidamente deletados. Como a minha lua é em câncer, o alvo é a década de 1980 (eu tinha vinte e poucos anos). Um brinde à juventude que já se foi. Se você é jovem ainda, aproveite bem o seu tempo. Porque uma saudade gigantesca surgirá faiscante bem na virada da quinta década de existência.