Entendamo-nos: o design somos nós próprios revisitados. Formas específicas e acenos estéticos acasalam, na casa do design, com uma democracia quase intuitiva que todos partilhamos. É por isso que o design não é apenas uma espécie de revestimento dos objectos culturais. Ele é sobretudo a dança que percorre o modo com que nos olhamos ao espelho, numa sociedade em que o corpo já não é apenas um organismo.
O corpo passou a projectar-se para muito longe de si mesmo. Digo uma palavra em Singapura ao mesmo tempo que o ipad me dá ao dedo a simulação de uma viagem celeste. E, no entanto, continuo serenamente em Portugal sentado numa cadeira que não é apenas uma cadeira. O som da palavra, o dedo, a viagem e o objecto ambíguo onde me sento são partes de um polvo de prazer que nada tem de orgânico. Trata-se antes de uma construção bem mais vasta de que faço parte e onde interfiro.
O design cresce neste tipo de territórios férteis onde nos revisitamos sempre que agimos. O design não necessita de reflexão, por isso mesmo: ele impõe-se ao declarar-se. É por isso que eu escolho este site e não aquele, é por isso que eu escolho estas meias e não aquelas, é por isso que eu escolho esta palavra e não aquela (o design também se gera por dentro da literatura, é verdade).
Ainda que o design não necessite de reflexão, a verdade é que este pequeno livro acaba por marcar um encontro com a reflexão sobre o design. Espero que seja útil e que crie sintonias interessantes. É esse apenas o meu desejo.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Luís Carmelo
- Tamanho: 427 KB
- Nº de Páginas: 84
- Idioma: Português
Amostra Grátis do Livro
Faça a leitura online do livro Design: a poética em estado bruto, escrito por Luís Carmelo. Esse é um trecho gratuito disponibilizado pela Amazon, e não infringe os direitos do autor nem da editora.