de sombras garrafas e demônios: contos e mais contos
Por Rogério Machado
A obra inaugural de um autor de ficção permite um ou outro descontentamento a quem a lê. De início, serpenteia-se no texto à cata de saber a que veio o autor, se o trabalho merece uma leitura mais aprofundada, prazerosa, quase analítica, ou se o descarta no dinamismo de uma eventual resposta gentil, encorajadora, sem maiores consequências ou alguma responsabilidade. No fundo, um “prazer-em-conhecer” desmotivado e quase despercebido.
Longe de ser o caso dos contos que compõem De sombras, garrafas e demônios, uma visitação que Rogério Machado faz a sua vida e a sua imaginação no decorrer de 38 narrações, algumas sequenciais, outras de entremeio (Seu Cleto e Tia Rosa, por exemplo, a personagem que inaugura e a que finaliza a coletânea), e mais algumas independentes do contexto em que decorrem as demais, porém em perfeita ressonância com o estilo e com a singularidade de sua prosa.
São reminiscências, desde os seis anos, quando lhe despertam os confusos sentimentos amorosos e surgem as inocentes algazarras pueris, até a idade adulta, reflexiva, do pai que busca repercutir nos filhos a coerência instintiva de sua própria geração. E é nesse ponto que ele, confessadamente, se surpreende, na mesma dosagem do espanto ao se deparar com as revelações que o caminhar da vida lhe proporciona.
Chama a atenção, preliminarmente, em O pequeno Don Juan, personagem típica dos idos escolares, a insegurança infantil (e até mesmo adolescente) enovelada pelas relações sentimentais frutificadas no imaginário e pertinentes à imaturidade dos “seis anos bem vividos” do autor-personagem na época em que se desenvolve o conto.
Em Ínsula máter, em Náufragos e em Tarzan, o rei da ilha, Rogério Machado delineia um passeio lírico pela Ilha de Paquetá, sua sempre presente Macondo, com a evocação de paisagens, de sítios, de pessoas e de aventuras (às vezes perigosas!) passadas naquele paraíso natural que foi o quintal de sua infância.
Em Minicontos, aparecem as tiradas espirituosas de Lorena, coadjuvada pelo irmão Daniel, filhos do autor, um retrato da pertinência da convivência familiar em qualquer canto da vida.
Finalizando a obra, lança um preito a Tia Rosa, a querida tia-avó, mulher de modos típicos de sua época e, em muitas ocasiões, responsável pela guarda do irrequieto autor em suas infindáveis estripulias.
Sob o aspecto da estrutura do texto, chama bastante a atenção a construção das duas partes de Eros no divã, que anuncia, talvez sem que Rogério Machado o perceba, a prévia de uma novela ou o alicerce de uma peça teatral, dados os ricos e reflexivos diálogos, em que o autor constrói uma instigante história de entrega e de desapego amoroso que se revela aos poucos.
Demais, é saudar sua estreia como ficcionista – já que, como poeta, já mostrara a que viera em O melhor da rosa – e almejar que a peregrinação por significantes e significados prospere em novos torneios vocabulares, a sustentar – com tamanho vigor, engenho e arte – o que se apresentou nestas Sombras.
Sérgio Penna
Longe de ser o caso dos contos que compõem De sombras, garrafas e demônios, uma visitação que Rogério Machado faz a sua vida e a sua imaginação no decorrer de 38 narrações, algumas sequenciais, outras de entremeio (Seu Cleto e Tia Rosa, por exemplo, a personagem que inaugura e a que finaliza a coletânea), e mais algumas independentes do contexto em que decorrem as demais, porém em perfeita ressonância com o estilo e com a singularidade de sua prosa.
São reminiscências, desde os seis anos, quando lhe despertam os confusos sentimentos amorosos e surgem as inocentes algazarras pueris, até a idade adulta, reflexiva, do pai que busca repercutir nos filhos a coerência instintiva de sua própria geração. E é nesse ponto que ele, confessadamente, se surpreende, na mesma dosagem do espanto ao se deparar com as revelações que o caminhar da vida lhe proporciona.
Chama a atenção, preliminarmente, em O pequeno Don Juan, personagem típica dos idos escolares, a insegurança infantil (e até mesmo adolescente) enovelada pelas relações sentimentais frutificadas no imaginário e pertinentes à imaturidade dos “seis anos bem vividos” do autor-personagem na época em que se desenvolve o conto.
Em Ínsula máter, em Náufragos e em Tarzan, o rei da ilha, Rogério Machado delineia um passeio lírico pela Ilha de Paquetá, sua sempre presente Macondo, com a evocação de paisagens, de sítios, de pessoas e de aventuras (às vezes perigosas!) passadas naquele paraíso natural que foi o quintal de sua infância.
Em Minicontos, aparecem as tiradas espirituosas de Lorena, coadjuvada pelo irmão Daniel, filhos do autor, um retrato da pertinência da convivência familiar em qualquer canto da vida.
Finalizando a obra, lança um preito a Tia Rosa, a querida tia-avó, mulher de modos típicos de sua época e, em muitas ocasiões, responsável pela guarda do irrequieto autor em suas infindáveis estripulias.
Sob o aspecto da estrutura do texto, chama bastante a atenção a construção das duas partes de Eros no divã, que anuncia, talvez sem que Rogério Machado o perceba, a prévia de uma novela ou o alicerce de uma peça teatral, dados os ricos e reflexivos diálogos, em que o autor constrói uma instigante história de entrega e de desapego amoroso que se revela aos poucos.
Demais, é saudar sua estreia como ficcionista – já que, como poeta, já mostrara a que viera em O melhor da rosa – e almejar que a peregrinação por significantes e significados prospere em novos torneios vocabulares, a sustentar – com tamanho vigor, engenho e arte – o que se apresentou nestas Sombras.
Sérgio Penna
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Rogério Machado
- ASIN: B09XLX1931
- Idioma: Português
- Tamanho: 275 KB
- Nº de Páginas: 165
- Categoria: Contos
Amostra Grátis do Livro
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