Com este livro eu pretendi caminhar na sutil corda-bamba entre o que é poesia e o que é prosa. No que diz respeito à poesia a ideia aqui foi criar curtos textos que tivessem vida própria, poética suave e que fossem independentes um do outro. Já no que diz respeito à prosa, almejei realizar uma espécie de romance fragmentado, com uma trama bastante tênue e uma personagem (ou personagens?) quase invisível. Trata-se aqui de um Eu em busca de algo que tanto deseja alcançar. Será a própria poesia ou a capacidade para realizá-la em poema? Talvez a resposta para essas perguntas estejam meticulosamente sugeridas nos Intermédios que compõem as transições entre os capítulos ou nos diálogos constantes que o texto realiza com imagens variadas (fotografias) que também participam da feitura desta obra.
Assim, o primeiro capítulo (da Busca) é a fase de reconhecimento. A personagem tenta se conhecer melhor, pergunta-se sobre o próprio ser, indaga o mundo ao seu redor. No segundo capítulo (do Encontro) parece que a personagem depara-se com aquilo que procurava. Mas tudo é incerto, não parece claro e há uma tensão contínua e recursiva. A personagem busca e encontra-se frequentemente com o seu passado, formado por sua bagagem intelectual, algumas referências artísticas, científicas e literárias, além de tentar por várias vezes e de maneiras distintas montar uma emboscada para capturar e aprisionar aquilo que tanto buscava e parece ter encontrado.
O desfecho da obra se dá no terceiro capítulo (do Drama) quando a perspectiva da delgada trama parece se inverter. Nesta parte do livro, o leitor se depara com um discurso na segunda pessoa do plural e isso indica que a personagem local parece ser outra. Ou seja, há um discurso agora como se fosse do ponto de vista do objeto que estava sendo procurado anteriormente. O objeto se transformou em sujeito e ele realiza algumas argumentações e críticas ao(s) sujeito(s) anterior(es). Vale destacar que neste capítulo final, nenhuma imagem está presente, mas que agora os próprios textos parecem pulsarem e quererem se romper, eles próprios, em imagens e formas, como se texto quisesse ser imagem além do seu conteúdo.
Espero que esta minha breve descrição sobre o meu livro de Selene ajude e motive os caros leitores a seguirem as suas ruelas e becos aventurosos. Como apoio à criação literária e estrutura topológica da obra apoiei-me ainda em alguns números ímpares e teorias da física. Mas aí são assuntos para uma outra conversa…
“…nesse imenso caminho irregular, há atalhos quase desertificados… vias fraturadas… sendas decaídas, onde sobressaltam os desejos não concretizados… do vazio que preenche os becos abandonados, resta apenas a consciência de se saber caminho… por vezes, as entradas conduzem a um conto falhado, um poema frustrado… talvez, um diário de bordo, mal feito e descuidado… quiçá, a esboço longínquo de um romance fragmentado… fragatas à deriva… ciganos quase-imóveis e, ainda assim, necessários…”
Munique, 2019
João Araújo
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): João Araújo
- ASIN: B07W73B951
- Editora: João Araújo
- Idioma: Português
- Tamanho: 15440 KB
- Nº de Páginas: 121
- Categoria: Arte, Cinema e Fotografia
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