De Alma Lavada: Uma Brasileira Sozinha no Tribunal em Londres

Naomi: uma brasileira que deixa tudo para tentar a vida numa carreira em um escritório londrino. Ela só podia dar certo: as melhores escolas, as competências certas, falava vários idiomas. Mas descobriu que quando as coisas não saem como planejadas, a matéria que vai mais ajudar não é aquela que aprendeu em sala de aula…
Stravos: o chefe que achava que podia conseguir as coisas do seu jeito em Londres como conseguia na África.

História verídica, autobiografia de uma brasileira corajosa que desafiou o sistema para se defender sozinha no tribunal por seis dias. Tudo o que ela acreditava de si mesma e do mundo mudou com essa experiência absurda. Um livro que mergulha na parte mais frágil da vítima para extrair o guerreiro em todos nós.

“Ele gritava, xingava, humilhava ela de todos os modos. Finalmente, a espremeu contra a parede enquanto beijava seu pescoço e a tocava, achando que ela finalmente se submeteria. Mas não contava com a força e a determinação dessa brasileira que lutou contra ele e a empresa que o protegia acima de qualquer lógica.

Abandonada à própria sorte em Londres, sem advogado, ela encarou todos os vilões e se defendeu SOZINHA no tribunal inglês.

“O juiz era um homem na faixa dos 60 anos, e deu um novo significado à palavra “solene“. Era alto e magro, cabelos grisalhos. A cabeça levemente inclinada para baixo fazia com que seu olhar, totalmente inexpressivo, viesse de entre as suas pestanas e fizesse com que todos na sala se sentissem culpados por trazê-lo ali. Qualquer razão para tirá-lo da sua alcova parecia insignificante. A boca estava levemente aberta e me perguntei se ele sabia que isto diminuía ainda mais a expressão facial, um truque às vezes utilizado por jogadores de poker. As presenças tétricas e zumbióticas do juiz e da assessora não pareciam em nada propícias para um diálogo sobre sofrimento humano.
O meu coração batia a mil. De repente, toda a insegurança veio à tona e tive vontade de fugir. Pensei no meu sotaque brasileiro (talvez eles achassem isso insuportável), nas palavras difíceis que certamente usariam para me desnortear, no escrutínio de minha personalidade, no meu desconhecimento da lei, nas mentiras que iria ter de ouvir e das quais teria de me defender. Cheguei até a me sentir culpada por trazer todos ali para ouvirem os meus lamentos. Nesse momento, todo o sofrimento que me levou até ali parecia efêmero diante do suplício que eu antevia para os próximos dias. Uma sensação de náusea me invadiu, e foi difícil controlar os espasmos.
Fechei os olhos e balbuciei uma pequena oração, pedindo força e coragem. Não tinha mais escapatória.”

Naomi nasceu em Maringá, Brasil. Estudou Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, e fez mestrado em Estratégia Empresarial na Universidade de Nanterre – Paris X, doutorado (incompleto) em Estratégia Empresarial na HEC – Hautes Etudes Commerciales em Jouy-en-Josas, e créditos doutorais na INSEAD em Fontainebleu, França. A partir dos vinte anos morou por vários meses ou anos em lugares como a Itália, Alemanha, México, Uruguai, Grécia, França, Inglaterra e Suíça. Atualmente mora feliz em São Paulo, Brasil, mas quando o leitor estiver terminando estas linhas, é possível que ela já esteja em outro lugar.
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