CRÔNICAS DA EXPOSIÇÃO INVISÍVEL: Brazil

O dia a dia era animado entre as classes. O vendedor de cuscuz, o lavador de carros, o sambista engomado, o jogador de sinuca, o traficante e o pedreiro traficante, a senhora que alimentava gatos, o vendedor de balas, sua carroça e o filho estudante de enfermagem, a vizinha gostosa do segundo andar do prédio ao lado da casa sempre à venda, o aposentado bêbado vespertino, o gavião da grande árvore que atacava e espantava outros pássaros, reinando sem súditos. Tinha também os vizinhos freelas, diariamente, na fila de espera do hospital que fazia parte de uma rede de plano de saúde, do outro lado da rua.
O colorido e a sonoridade mudavam quando caía a noite. Novas conversas e o tintilar dos copos e garrafas nas dezenas de bares notívagos , a sirene das ambulâncias, da polícia, a banda do vizinho trash metal, o pagode amigo, os tiros. Era movimentada a noite na fronteira!

Na direção oposta, dois quarteirões abaixo, estava a Lapa, A Louca. Ali sim morava o perigo. Descendo a rua do studio, eu deveria sempre virar à direita e pegar um táxi ou ônibus, e partir. Aê… em vez disso, se atravessasse a Riachuelo, só voltava três dias depois. O que era frequente.”

“Mas confio na qualidade dos meus pigmentos. É comum perguntarem sobre a durabilidade da técnica, das cores, nuances e da ação do tempo sobre elas. Uso pigmento industrial empregado na construção civil para pisos, paredes, muros, currais, usado no fogão a lenha do tempo da minha avó e que ainda está em uso. O que quero dizer é que estes pigmentos duram uma eternidade. Sim, existe um certo perigo em usá-los. Eles não descoloram, com o tempo matam. A tinta matou Cândido Portinari.

Mas o veneno, para insatisfação dos colecionadores, foi isolado e excluído do dióxido de titânio e atualmente é usado inclusive na indústria alimentícia. “