Contos às Marias e outras histórias

A partir da imagem de Eva e de Maria, a cultura ocidental cristã criou e divulgou dois tipos antagônicos de figura feminina. A primeira representava o pecado, o desvio do caminho, o demônio; a outra, a virtude, a redenção, o protótipo. Tais modelos, muito reproduzidos nos textos literários, também funcionavam como forma de influenciar o comportamento das mulheres e “prendeu” muitas mulheres numa teia na qual ela não tinha o direito de escolher seu próprio caminho.

Daianna Quelle, em seus contos, grita em nome de inúmeras mulheres. São Marias jovens, maduras, idosas, de todas as classes sociais. O ponto nevrálgico que liga essas mulheres é rédea do próprio destino. A tragicidade que permeia a obra é mesma que acompanhou ( e ainda acompanha) a história de muitas mulheres.

São contos curtos que captam a essência de cada mulher protagonista e nos fazem olhar para suas diversas facetas. Com o uso de uma linguagem simples a autora levanta a bandeira em defesa dos direitos femininos. A diversidade de suas personagens revela o desejo da autora de refletir acerca de diferentes questões relacionados à mulher, a saber: maus tratos, morte, orientação sexual, educação, profissão.

A vida Ana Julia, Dolores, Maraísa, Clarisse, Elizabeth pode ser observada por qualquer pessoa em diferentes pontos do mundo. São histórias que parecem coletadas nas esquinas e arquivadas para que jamais seja esquecido que ainda precisamos avançar muito no que tange ao espaço da mulher na sociedade. São contos que pedem para que a mulher não seja subjugada, ao mesmo tempo em que dar visibilidade às mazelas que continuam seguindo seu caminho.

A narrativa de Daianna Quelle é como um batom vermelho que marca a boca e atrai olhares.

Érica Azevedo
Escritora, poeta e professora da Rede Estadual da Bahia.