CONTOS ANÔNIMOS

Os contos aqui reunidos foram escritos na década de 90 e não têm a ambição de atingir uma perfeição estética. São contos que têm como base a voz e não o destrinchar do enredo de uma história. Tem a voz como um eco que tanto pode ser vestígios de ecos produzidos pela mente ou mesmo a voz de nossos sonhos e pesadelos.

Ou mesmo ecos de relatos que escutámos num ônibus, numa fila de emprego ou então num assento frio de um pronto socorro; ou talvez a voz de um bêbado num boteco a resenhar sobre o efeito do álcool. Ou a voz de um doente mental a conversar com seus próprios fantasmas.

Imagine a voz de alguém ao passar diante de sua janela a conversar qualquer coisa e esta voz desperta o seu interesse pela conversa, porém, não te conduz ao real motivo e ao sentido que sustenta a conversa. Portanto, os contos aqui reunidos, possam ser compreendidos ou não, isso, por ser contos embebidos de delírios, de barbáries e absurdos.

São contos que nos remetem a mundos de significados, mas não obstante deixam lacunas quanto aos seus significados por não alcançamos a completude de um sentido. O sentido, metaforicamente, é uma bolha de sabão que se dispersa no espaço da mesma forma que um eco de uma eco que se perde no tempo e espaço.

Alguns contos aqui apresentados são breves, outros, a voz é mais extensa, assim como um eco que se prolonga no espaço e no tempo. Como diria o crítico e escritor Antonio Candido: “De certa forma, as orações (voz) de um texto (de uma fala) projetam um mundo bem mais fragmentário do que a nossa visão já fragmentária da realidade”.