Conspiração no Cone Sul Vol. II: Reconvenção (O feitiço virou contra o feiticeiro)

Em suas conjecturas sobre a situação o objetivo mais imediato e relevante de Aramis era conseguir um meio de se libertar das algemas; se conseguisse, aumentavam exponencialmente suas chances de dar o troco aos inimigos. Uma parada no porto de Santos, para suprimento dos víveres e apropriação dos explosivos a serem usados na etapa seguinte da viagem deu a ele uma nova motivação para redobrar os esforços com as algemas, e explodir o barco surgiu como consequência natural em suas conjecturas. O problema, no entanto, continuava sem solução, pois o instrumento que obteve com o dente quebrado de um garfo não se prestou para abrir o fecho das algemas. Mais adiante, em Cananéia no sábado à noite, uma parada para repouso e lazer da tripulação fez com que fosse trazida a bordo, uma companhia feminina para o tripulante responsável pela embarcação na ausência dos demais. Assim que pousou os olhos no prisioneiro, ela se mostrou interessada no belo rapaz que ali estava naquela situação humilhante, fato que também a ele não passou desapercebido, e vislumbrou então a chance de pedir a ela um grampo de cabelos que daria uma ferramenta muito mais apropriada para aquela finalidade. No domingo de manhã, a pretexto de tomar um banho de sol após o café, ela preparou uma xícara para o prisioneiro e apropriou um pacote de bolachas que levou também para ele. A resultante exalta a imaginação do leitor para que saiba o que aconteceu depois. Com a ferramenta certa para se libertar quando bem entendesse, Aramis não teve dificuldade em usar o acendimento automático do fogão como detonador do C4 no momento em que a refeição matinal da segunda-feira fosse preparada. A rotina da tripulação era sempre a mesma e o prisioneiro não teve dificuldade de calcular a nível de fração de segundo, o momento em que dispositivo seria acionado e ele então já liberto das algemas saltou na água a tempo de escapar da explosão, exceto por um pequeno ferimento provocado por destroços que o atingiram ao retornar à superfície. O prejuízo para os bandidos, além da morte do capitão e mais um tripulante foi a perda total de tudo que fora obtido e que se pretendia obter com a operação, inclusive a eliminação do prisioneiro que era um dos objetivos, com a agravante de estar à solta uma testemunha perigosa para a organização criminosa.
Foi um revés intolerável para a vaidade dos bandidos, o que fez recrudescer ainda mais o desejo de matar esse que agora era viso como testemunha dos crimes. O que se seguiu então foi uma sequência de atos desesperados de parte a parte com ataques e defesas, sequestros e resgates, denúncia e reconvenção, até o desfecho final.