Conhecer a si mesmo é ouro sobre o azul

Ao propor-se um olhar para dentro de si, Yara Pugliesi discorre abertamente sobre suas origens, memórias pessoais, circunstâncias de vida, escolhas, resultantes, alegrias, sofrimentos, limites e possibilidades. Não doura a pílula. Ressalta, sim, o que pensa sobre valores fundamentais, pilares formativos, virtudes escassas (empatia e paciência, por exemplo). Passeia por questões bem atuais e coroa a reflexão com uma brilhante analogia com o astro rei. Mostrando-nos a importância do métron, a justa medida de todas as coisas, do aprender a lidar com tudo que a vida nos apresentar, não deixando de se expor, mas conhecendo e mantendo todos os cuidados. E de como a dinâmica, tão enraizada, da culpa e suas projeções, pode ser repensada para muito além do que chamamos comumente de “complexo do bode expiatório”.

Mas o que mais salta aos olhos nesta gama de ideias e sentimentos que o texto desperta é a importância fundamental de três eixos:
•a educação assistemática, da origem, da vivência familiar, aquela que vem com o exemplo, que enraíza, fortalece e alimenta, representando o lugar simbólico de onde se vê o mundo;
•o entendimento de que todas as experiências contêm um certo ensinamento: a questão é conseguir perceber isto e aprender a lição, escolhendo o que repetir ou não;
•o enraizamento na sabedoria ancestral dos profetas e apóstolos judaico-cristãos, o que amplia a visão e transcende o pessoal.

Em suma, apresenta reflexões de uma vida, ainda em caminho, sempre em processo de transformação. Um legado de experiências elaboradas para que cada um de nós, ao ler e refletir sobre o conteúdo, possamos também fazer um movimento de maior interiorização, compreendendo todas as manifestações descritas e comentadas nos vários relatos como a expressão de que todos os sentimentos têm o direito – e talvez seja este nosso dever – de ser conscientizados, compreendidos e respeitados.

Denso e leve, o texto prende e envolve, difícil é parar de ler. E de pensar a respeito.