Confissões da Bahia: Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil

Outras práticas também eram perseguidas, como a da feitiçaria, da qual as Confissões apresentam alguns exemplos, e a de heresia, em que os “luteranos” eram alvo preferencial.

As confissões que foram obtidas em 1591 e 1592 na Bahia podem ter, porém, surpreendido o visitador. E é nestas particularidades que estes documentos podem nos ajudar a compreender um pouco mais sobre a realidade cotidiana e a sociedade colonial do Brasil de finais do século XVI.

Afinal, diferentes tipos de pecados, ligados à realidade local, parecem ter surpreendido os membros da Inquisição. As práticas sexuais consideradas desviantes, que incluíam desde relações homossexuais, passando pela poligamia com indígenas, alcançando a bestialidade. As ações dos sertanistas que, ficando meses pelo interior do Brasil, utilizavam-se deste tempo para abandonar hábitos católicos, e entregarem-se à vida dos “gentios”. As heresias tipicamente locais, como é o caso da Santidade de Jaguaripe, uma “abusão” (como se diz nos documentos) que sincretizava elementos indígenas e católicos, em torno de um ídolo de pedra, e que contava com seu próprio Papa, sua própria Maria, e seus próprios seguidores.

A presente edição é acompanhada de uma pequena análise feita por Capistrano de Abreu. As confissões, por sua vez, foram alteradas ao mínimo, pois se procurou manter as características particulares da escrita dos documentos legais produzidos pela Inquisição. Diante do medo, das confissões, do perigo da punição, pode-se notar, porém, vários elementos da vida cotidiana da Bahia colonial.