Cego de Poder

Um macaco com asas de libélula pousou sobre o ombro de Minerva. Esses tipos de bichos são normais no Vale Juberir. Assim como são as baleias de planta, as borboletas gigantes, os lobos-coelhos… ela percebeu que só estava repetindo os nomes das criaturas que lá viviam para distrair sua mente da verdade assustadora que vivia. Selena se fora… e agora esse bebê que segurava nos braços era tudo que havia sobrado.

Os lábios da mulher se crisparam num rosnado de ódio, mas ele se dissolveu num soluço doloroso no mesmo instante. Não. Não havia tempo para aquilo. Minerva se sobressaltou quando o macaco desceu pelo seu ombro para a criança e já tentava cutucar a pequena. Com um leve e irritadiço movimento do indicador dela, uma bola de água vinda de uma poça do chão atingiu o bicho, o afugentando. Suspirando e voltando a aconchegar o bebê nos braços, a mulher olhou para cima, para o céu noturno:

– Vai chover. – ela disse para ninguém.

– Vai chover. – falou o bebê anos depois, quando seus olhos cegos se ergueram para o céu.

Em seguida,a jovem saiu em direção ao mercado, tinha que comprar as coisas para a Sra.Bre, para receberem os cavaleiros, ou porcos imprestáveis e bêbados, como ela os chamava. Enquanto isso, se aproximando da pequena vila por lados opostos, vinham dois homens muitos distintos. Um vinha a pé, com um andar confiante, olhar brincalhão e sorriso de canto, e o outro, a cavalo com o resto dos cavaleiros, tímido e sem entender o que se passava, com suas orelhas pontudas cuidadosamente escondidas por um gorro.