Capoeira: a construção da malícia e a filosofia da malandragem, 1800–2010 (Trilogia do Jogador Livro 3)

Nestor Capoeira foi inciado em 1965 por Mestre Leopoldina (Demerval Lopes de Lacerda, 1933-2007), um ícone da Capoeira carioca e da Malandragem Alto-astral das Escolas de Samba do Rio, em especial na Mangeira onde Leopoldina chefiava a turma de capoeiras na ala V.C.Entende, a ala-show da Mangueira na década de 1960.
Leopoldina, por sua vez, foi iniciado aproximadamente em 1947 por Quinzinho (Joaquim Felix de Souza, um jovem marginal carioca, exímio tocador de cuíca, mas também chefe de uma gangue de assaltantes de banco. Quando foi preso, ainda adolescente, pela primeira vez, Quinzinho já carregava algumas mortes nas costas. Curiosamente não admitia que os alunos mais antigos batessem nos novantos numa época em “se aprendia capoeira (que Quinzinho chamava de ‘Tiririca’) apanhando”. Quinzinho pontficava: “não bate no novato senão ele fica covarde e não aprende!”. Foi morto, antes de completar 30 anos, por volta de 1950, no Presídio da Ilha Grande por Chicão, o policial Chefe da Carceragem,
Aí Leopodina conheceu seu segundo mestre:Artur Emídio, que tinha vindo de Itabuna (onde tinha aprendido desde menino com mestre Paizinho) para fazer lutas de rinue no Rio como sócio de Waldemar Santana, a Pantera Negra, por volta de 1950. Paralelo às lutas profissionais, mestre Artur abriu uma academia em Bonsucesso (RJ) que influenciou muito fortemente toda a Capoeira carioca na década de 1950. Mestre Artur formou Leopoldina aproximadamente em 1957.

Mas Nestor, após 3 anos como aluno de Leopoldina na Atlética da Escola de Engenharia da UFRJ (Ilha doFundão, RJ), ficou sem mestre quando Leo se mudou para São Paulo. Foi aí que Nestor, através de outro estudante de Engenharia, Fernando “Gato” (um dos, então, jovens fundadores do Grupo Senzla de Capoeira do Rio, em 1963), foi levado para a Senzala, onde se tornou aluno de Wandencolque “Preguiça” de Oliveira (um, então, jovem, capoeirista baiano formado por mestre Bimba que tinha vindo para o Rio e se juntado à Senzala. Em 1969 Nestor recebeu sua “corda-vermelha” (graduação máxima da Senzala), tendo como padrinhos Gato, Gil Velho (outro dos fundadores da Senzala), e o finado Mosquito.
Finalmente em 1992, 24 anos depoisde entrar na Senzala, aos 46 de idade, Nestor saiu da Senzala e abriu sua Escola Nestor Capoeira, onde dá aulas até hoje ho Galpão das Artes Urbanas (Gávea/Leblon, RJ).
Paralelo a isto, escreveu vários livros sobre Capoeira, que foram traduzidos e publicados em 9 países, onde Nestor ensinou por mais de 12 anos. Estes livros já venderam mais de 120.000 exemplares e fizeram a cabeça de literalmente milhares de jogadores, vários dos quais se tornaram mestres.
Foi o herói capoeirista do filme longa-metragem “Cordão de Ouro” em 1977. Gravou 4 discos, hoje disponiveis em CD. Gravou vários documentários em DVD. Fez Mestrado e Doutorado em Comunicação e Cultura, com o prof.dr. Muniz Sodré (ECO-UFRJ, 1995 e 2002), e em 2016/2017 fez um Pós-doutorado com o prof.dr. Amalio Pinheiro (PUC/SP. PEPGCOS).

Tods esta vivência, e mais de 50 anos jogando Capoeira, desaguaram numa visão sobre o Jogo, o Ritual, a Malícia, a Filosofia de Vida dos Velhos Mestres, os Malandros Alto-Astral dosamba carioca, contidas nas páginas deste livro que, apesar da linguagem fluida e, algumas vezes, malandreada, tem a mesma profundidade do Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado de mestre Nestor.
“Capoeira é tudo que a boca come”, mestre Pastinha (1889-1981).
“Capoeira é ‘mardade’ ” , mestre Bimba (1900-1974).
“Para o bom malandro, o bom negóciotemde ser bom para todo o mundo”, mestre Leopoldina (1933-2007).