Cachoeira de Almas: e outras histórias

Desde as primeiras páginas, Gabriel deixa a cidade grande para trás e se pergunta sobre o mistério da Cachoeira de Almas, que só será revelado nas últimas páginas. Na cadência das modas de viola, no cozimento prolongado da experiência acumulada, Davilmar amadurece o narrador para uma descoberta surpreendente e singela, que não cabe revelar aqui: o leitor é que vai ter de descobrir, junto com Gabriel, os lugares maravilhosos a que a experiência da vida no campo pode levá-lo.

Fica difícil dizer o que é mais saboroso: o livro inteiro é uma degustação de paladares, essências, sensações. Para quem conhece a vida do sítio, os pratos servidos são de dar água na boca – e as receitas estão todas registradas ao final, para quem quiser prolongar a história na própria mesa. Para quem não conhece esse mundo, a obra desperta o encantamento de viver a vida de uma outra maneira. Mas ainda é mais do isso. Quem lê Cachoeira de Almas e outras histórias pode sentir os afagos dos bichos da fazenda, o canto dos pássaros, a sombra das árvores. Pode ouvir a pipoca estourar no sabugo, à noite, na fogueira. Pode se emocionar com a sabedoria transmitida pelas narrativas tradicionais, e pode aprender que a vida é sempre vitoriosa, com a origem do Bumba meu Boi e com o nascimento da bezerrinha Mimosa.

Aos poucos, aquele pequeno sítio se revela para o leitor como parte da história da cidade, da região e do próprio Brasil, e as nossas raízes mais profundas vão se mostrando na superfície do texto: Cachoeira de Almas e outras histórias propõe ao leitor um reencontro consigo mesmo, com seus ancestrais e com nossa memória coletiva.