Buquira

Estamos diante do mais novo romance de Humberto Henriques. Trata-se de um livro complexo e denso. O autor mantém a posição inicial da trajetória romanesca sob rédea firme durante todo o trajeto do desenvolvimento textual. Por isso, o romance jamais tergiversa ou se perde em assunto secundário, o que sempre alija de alguma maneira a relação entre perfeição e seus personagens. Estamos diante de um livro introspectivo. Isso deve sempre ser lembrado quando se trata de analisar as obras desse produtor ímpar de Literatura. Em momento algum faz o autor condescendência dentro e ao longo da trama e da urdidura desse magnífico compêndio em prosa. É um livro seco, expurgado de toda e qualquer ambientação que não diga respeito ao furioso gênio dessa personagem apical. Do começo ao fim do livro, personagem e fatores ambientais coexistem de uma maneira intrincada, sem que um modifique o outro ou sejam lesados ambos por qualquer tipo de manifestação externa.
Humberto Henriques sempre mantém seus livros com uma certa parcimônia na hora de enfrentar ou manter diálogos. Por isso mesmo, o volume de diálogos e sua representatividade dentro do romance é muito pequena. Segundo a sua opinião, o diálogo enfraquece demais o texto. De tal sorte que, na maioria das vezes, usa o recurso de uma espécie de figura de linguagem ainda sem nome, faz cm que o diálogo seja estendido da primeira pessoa do singular até a terceira pessoa, girando assim a angulação e a perspectiva do texto escrito. Isso acaba por pormenorizar o que é descrito. O diálogo é transferido para um mundo á parte e, ao fim e ao cabo, incorpora-se na trama e participa dela sem mais exigir da personagem aquele constrangimento de ter que se revelar na pancada do Eu. Humberto Henriques fez isso em outros romances e isso é uma constante em alguns de seus livros. A questão é que, nesse romance, por mais verossímil seja a ideia dessa fragilidade imposta pelo diálogo, aqui isso não acontece. Somos levados a tergiversar.
Esse título do romance, Buquira, traz como consideração a evidência muito clara da relação do texto com a fazenda herdada por José Renato de Monteiro lobato, a mesma terra vasta que um dia pertenceu ao Visconde de Tremembé. Monteiro Lobato viveu aí e deve ter escrito alguns de seus livros apoiando a caneta e o braço em madeiro dessa Buquira. Henriques claramente homenageia o escritor Monteiro Lobato com esse texto. Porém, muito mais cosias podem ser lucubradas a partir desse fenômeno nada corriqueiro entre escritores. As referências ao pica-pau amarelo aqui são constantes. Porém, nada exageradas. Esse mesmo pica-pau do sítio era o pica-pau amarelo que povoa inúmeros livros de Henriques, desde o romance Urucuia até todos aqueles que têm como cenário esse mundo atrativo da ruralidade brasileira. Mormente aqueles volumes descritos em teatro do estado de Goiás. O pássaro, emblemático por natureza, é alegria de voo nesse espaço.
Contudo, quando se trata de considerar a presença de outras personagens, como é o caso da Cuca, Visconde de Sabugosa, Tia Anastásia e Pedrinho – muitos outros presentes na memória infantil de quem um dia se dedicou a ler Monteiro Lobato -, essa revelação não se consuma com grande frequência ou veemência. São citados em passant e poderiam quase passar sem a percepção mais elaborada dentro do desenvolvimento desse compêndio de lição introspectiva. Para nós, Buquira é um livro cheio de surpresas. Não se pode jamais imaginar qual seria o passo seguinte de qualquer personagem estudada no entrecho, apesar de tudo ser simples e nada absurdo. A decadência e a degeneração são a amostra mais frequente desse romance e isso fica bastante claro quando se desenvolve a leitura. Então, resta dizer que é um grande livro, feito á moda distinta dos grandes romancistas do mundo. Mais uma vez isso pode ser provado e, sem dúvidas, aprovado.
Buquira é texto de escritor madu