Breve romance d’estrada

Trata-se da história de uma pintora latino-americana que a fim de realizar esta prática tem de insurgir contra o próprio destino, tal mulher consegue isto a partir de uma fuga com o professor de literatura por quem é apaixonada, sendo que inevitavelmente encontrará a tragédia no futuro.
É do escritor argentino Ricardo Piglia a seguinte formulação: “A pergunta que surge para mim, quase como ideia fixa que não deixa pensar em outra coisa, é o que é pessoal e o que é histórico na vida de qualquer indivíduo.” Tal frase evidencia que os corpos que existiram e existem na América Latina são amargamente marcados pela violência do poder; aqui, neste livro, não é diferente. Com tempo e espaço indefinidos, como a atestar que os acontecimentos específicos a este continente derivam do que não é exclusividade de tal continente, esta narrativa busca no desejo a força que move a querer a liberdade. Dentro do desejo, fazendo o conteúdo do desejo ser a imaginação, a liberdade é nova a cada vez que há a ânsia por atravessar limites que são continuamente repostos pelo tempo. O que acompanhamos nesta narrativa é a jornada de uma mulher cuja existência pretende ter como centro a atividade artística. Acontece que, para que a prática de pintura seja elemento central em sua vida, obstáculos terão de ser desfeitos, e o risco contido em tais obstáculos é o de que retornem sob a forma do imponderável, porque o corpo que desfaz estes obstáculos é o corpo de uma mulher. E uma mulher conhece os limites que tem de enfrentar. À medida que avança pelas páginas, é desvelado ao leitor o trabalho de linguagem minucioso, cujo lirismo aparece mesmo nos títulos que a pintora dá aos quadros que faz, e aqui há o encontro com o que pode ser uma entre as chaves de significação desta história: o que é sugerido ao leitor, pelo título das imagens, é o gesto de imaginar o que tais imagens são. Portanto, o prazer estético adentra o vão entre o que é histórico e o que é pessoal, porque tal prazer é o que sobra quando o que há é o triunfo, após a dor, diante do que é recorrente na biografia dos que existiram e existem neste continente, a América Latina.