Breve Estudo Sobre o Foco Narrativo
Por Maicon Tenfen Questões relativas aos modos de narrar preocuparam os pensadores da literatura desde os primeiros tempos dos estudos de poética e de retórica entre os gregos do século IV a. C. Afinal, foram Platão e Aristóteles, o primeiro, no Livro III, da República, e o outro, no segundo capítulo da Poética, que anunciaram que o poeta poderia falar em seu próprio nome ou em nome de um terceiro.
Por outro lado, até meados do século XIX da era cristã, vale dizer, por mais de 2.300 anos, essas conceituações pareciam bastar, porque, após Platão e Aristóteles, poucos autores se detiveram sobre o tema.
Contudo, com a entrada em cena do romance realista, capitaneado em língua francesa por Gustave Flaubert e, em língua inglesa, por Henry James, aquelas repartições revelaram-se insuficientes.
Flaubert advogou a necessidade de o narrador manter-se imparcial diante dos fatos apresentados, evitando o comportamento invasivo adotado por seus antecessores.
Henry James, da sua parte, não apenas confirmou o posicionamento do autor de Madame Bovary, como chamou a atenção para a importância de se integrar o foco narrativo à ação ficcional, associando-o à perspectiva de uma das personagens.
A partir desses autores, e de tantos outros que revolucionaram a narrativa na virada do século XIX para o XX, a ficção nunca mais foi a mesma: narrar histórias significou escolher um ângulo prévio de exposição dos fatos, a que o narrador devia prestar juramento de fidelidade.
O mesmo valeu para s teorias da narrativa: na esteira de Henry James, Percy Lubbock propôs uma tipologia do narrador, a que se seguiram muitas outras, seja em língua inglesa, como as de Norman Friedman e Wayne Booth, em língua francesa, como a de Jean Pouillon, ou em língua espanhola, como a de Oscar Tacca, para não se falar dos estudos assinados por F. Stanzel, T. Todorov e Gerard Genette, entre tantos pesquisadores atuantes na segunda metade do século XX.
Entender, explicar e exemplificar tais teorias, esclarecendo suas diferenças, sem simplificá-las ou, pelo contrário, obscurecê-las, não é tarefa fácil. Exige conhecimento das teses principais de cada um dos autores e, ao mesmo tempo, habilidade para expor suas peculiaridades; exige igualmente conhecimento da tradição literária e dos novos percursos adotados pelos ficcionistas, para encontrar os casos em que se materializam os distintos modos de narrar.
Eis o que Maicon Tenfen realiza com grande competência e economia. Manejando os conceitos com muita familiaridade, consegue traduzi-los em estilo coloquial e agradável. Ao mesmo tempo, seu amplo cabedal de leituras permite-lhe aplicar os termos aos casos que melhor os elucidam, facultando ao leitor e ao estudioso da literatura uma compreensão imediata dos temas propostos.
Em decorrência, o estudo de Maicon Tenfen sobre o foco narrativo pode ser simultaneamente breve, como informa seu título, e profundo, sem deixar de também se revelar prático, ao alcance de todos os interessados em melhor compreender as virtudes criativas da ficção, capazes de continuar nos surpreendendo desde os gregos clássicos até nossos dias.
Regina Zilberman
Por outro lado, até meados do século XIX da era cristã, vale dizer, por mais de 2.300 anos, essas conceituações pareciam bastar, porque, após Platão e Aristóteles, poucos autores se detiveram sobre o tema.
Contudo, com a entrada em cena do romance realista, capitaneado em língua francesa por Gustave Flaubert e, em língua inglesa, por Henry James, aquelas repartições revelaram-se insuficientes.
Flaubert advogou a necessidade de o narrador manter-se imparcial diante dos fatos apresentados, evitando o comportamento invasivo adotado por seus antecessores.
Henry James, da sua parte, não apenas confirmou o posicionamento do autor de Madame Bovary, como chamou a atenção para a importância de se integrar o foco narrativo à ação ficcional, associando-o à perspectiva de uma das personagens.
A partir desses autores, e de tantos outros que revolucionaram a narrativa na virada do século XIX para o XX, a ficção nunca mais foi a mesma: narrar histórias significou escolher um ângulo prévio de exposição dos fatos, a que o narrador devia prestar juramento de fidelidade.
O mesmo valeu para s teorias da narrativa: na esteira de Henry James, Percy Lubbock propôs uma tipologia do narrador, a que se seguiram muitas outras, seja em língua inglesa, como as de Norman Friedman e Wayne Booth, em língua francesa, como a de Jean Pouillon, ou em língua espanhola, como a de Oscar Tacca, para não se falar dos estudos assinados por F. Stanzel, T. Todorov e Gerard Genette, entre tantos pesquisadores atuantes na segunda metade do século XX.
Entender, explicar e exemplificar tais teorias, esclarecendo suas diferenças, sem simplificá-las ou, pelo contrário, obscurecê-las, não é tarefa fácil. Exige conhecimento das teses principais de cada um dos autores e, ao mesmo tempo, habilidade para expor suas peculiaridades; exige igualmente conhecimento da tradição literária e dos novos percursos adotados pelos ficcionistas, para encontrar os casos em que se materializam os distintos modos de narrar.
Eis o que Maicon Tenfen realiza com grande competência e economia. Manejando os conceitos com muita familiaridade, consegue traduzi-los em estilo coloquial e agradável. Ao mesmo tempo, seu amplo cabedal de leituras permite-lhe aplicar os termos aos casos que melhor os elucidam, facultando ao leitor e ao estudioso da literatura uma compreensão imediata dos temas propostos.
Em decorrência, o estudo de Maicon Tenfen sobre o foco narrativo pode ser simultaneamente breve, como informa seu título, e profundo, sem deixar de também se revelar prático, ao alcance de todos os interessados em melhor compreender as virtudes criativas da ficção, capazes de continuar nos surpreendendo desde os gregos clássicos até nossos dias.
Regina Zilberman
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Maicon Tenfen
- ASIN: B094KZX623
- Editora: Edições Ronin
- Idioma: Português
- Tamanho: 1398 KB
- Nº de Páginas: 78
- Categoria: Língua, Linguística e Redação
Amostra Grátis do Livro
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